quarta-feira, 30 de setembro de 2009

1º Passo...de uma longa caminhada

Comunicação Politica

David Miller, definindo a politica como "um processo pelo qual um grupo de pessoas, cujas opiniões e interesses são geralmente divergentes, chegam a decisões colectivas geralmente entendidas como vinculativas para o grupo e postas em prática como politica comum" (Miller, 1987, p.390), cita três elementos, normalmente envolvidos na tomada de decisão colectiva, que dão conta da profunda inter-relação entre comunicação e politica: "a persuasão, a negociação e um mecanismo para chegar a uma decisão"(Miller, 1987, p.390).

Miller, D. (1987), "Politics", in The Blackwell Encyclopaedia of Political Thought, Blackwell, Oxford, pp. 390-391.

Comunicação Politica

"Há mais que um laço verbal entre as palavras comum, comunidade e comunicação. Muitos homens vivem numa comunidade em virtude das coisas que têm em comum e a comunicação é a forma pela qual eles conseguem possuir coisas em comum. O que devem ter em comum para formar uma comunidade ou sociedade são objectivos, crenças, aspirações, conhecimentos: enfim, uma compreensão comum". (Dewey, 1916, pp. 1-2)

Dewey,J. (1916), Democracy and Education: an Introduction to the Philosophy of Education, Macmillian, New York.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

BIOLOGIA E FISIOLOGIA DO COMPORTAMENTO: A Síndrome de Korsakoff


No final do século passado, o médico russo Sergei S. Korsakoff descreveu uma síndrome que acompanhava certos casos de alcoolismo crónico cuja principal característica era a perda da memória. Esta síndrome designada desde então como Síndrome de Korsakoff resulta frequentemente de um historial severo de alcoolismo e é principalmente caracterizada por uma amnésia anterógrada e uma incapacidade para reter informação nova e pode revelar por vezes perturbações na memória retrógrada.
Esta doença resulta muitas vezes de um longo período de ingestão de álcool, isto por vários motivos: muitos alcoólicos têm maus hábitos alimentares, não ingerem os alimentos necessários ao organismo já que o álcool fornece por si só um alto valor de calorias. Assim sendo, os alcoólatras possuem muitas vezes défices de vitamina, nomeadamente de vitamina B1 ou tiamina. Para além disso, o álcool pode inflamar a parede do estômago e impedir que o corpo absorva as vitaminas que recebe, o álcool interfere também com o transporte gastrointestinal da vitamina B1. Estes factores vão provocar um défice de tiamina no organismo que vai dar origem às lesões cerebrais características desta doença.
A esta síndrome precede muitas vezes uma outra perturbação, designada por encefalopatia de Wernicke nesse caso a doença toma o nome de síndrome de Wernicke-Korsakoff. O sindroma de Wernicke-Korsakoff consiste em dois estádios separados mas que estão relacionados: os pacientes com desordem de Wernicke-Korsakoff apresentam uma progressão da doença de um estado súbito de confusão por vezes acompanhado por ilusões e confabulação (produção de histórias sobre as suas circunstâncias que são imprecisas ou mal colocadas no tempo). Este é referido como o estádio da encefalopatia de Wernicke e representa a fase penetrante da doença. No segundo estádio, o paciente torna-se mais estável e menos confuso e começa a entrar numa profunda e amnésia crónica, esta é a parte de Korsakoff do sindroma de Wernicke-Korsakoff
As lesões específicas desta síndrome afectam várias estruturas cerebrais. O diencéfalo é a zona mais afectada: observam-se lesões hemorrágicas nos núcleos anteriores e dorsomedial assim como nos corpos mamilares (núcleos do hipotálamo). Adicionalmente registam-se défices de volume no hipocampo e perdas significativas de matéria cinzenta no córtex orbitfrontal e mesotemporal assim como no tálamo e noutras estruturas do diencéfalo e também em grande parte dos ventrículos. Outras áreas lesionadas nestes pacientes incluem o cerebelo anterior, o bolbo raquidiano, também há evidências de atrofia do cortéx préfrontal dorsolateral. Observa-se igualmente uma patologia da matéria branca, indicando que os danos neste tecido podem ser os responsáveis pelas perturbações cognitivas e motoras próprias da síndrome de Korsakoff.
Todos estes danos nas estruturas cerebrais vão ter repercussões nas faculdades do indivíduo. A maior parte dos estudos feitos com pacientes de Korsakoff concentraram-se nas deficiências a nível da memória, pois esta é uma das funções mais afectadas.
A perturbação da memória que caracteriza esta doença inclui a deterioração da memória anterógrada provocando uma amnésia anterógrada (incapacidade em relembrar informação recentemente adquirida) ou na memória retrógrada (provocando amnésia retrógrada - incapacidade em relembrar acontecimentos remotos, informação que era familiar antes do inicio da doença), esta última mantém-se em muitos casos intacta, sendo a deficiência da memória anterógrada a mais evidente.
Butters (1984) realizou uma série de estudos de onde concluiu que a componente mais comum da perturbação de memória da síndrome de Korsakoff é uma codificação defeituosa da informação nova. O defeito na codificação da informação provoca uma impossibilidade do doente para aceder a muitas das experiências recentes ocorridas nos últimos dois ou três minutos, tendo assim pouco ou nenhum acesso a tarefas aprendidas nas quais participaram depois das lesões ocorrerem.
A evocação de informação presente na memória a curto termo não difere muito da dos indivíduos normais, mesmo com procedimentos de interferência.
Um aspecto da perturbação de memória desta síndrome é a falta de consideração das relações temporais: o indivíduo não usa essas relações para guiar e avaliar as suas respostas e expõe sequências de acontecimentos cronologicamente impossíveis, como por exemplo, existir televisão antes da segunda guerra mundial.
Outra das características marcantes desta doença que resulta da perturbação da memória é a confabulação, uma tendência do doente para preencher as falhas de memória que possui. O paciente acredita claramente naquilo que está a dizer, não existe uma tentativa óbvia de mentir. Kopelman (1987) faz uma distinção entre confabulação espontânea e provocada. Geralmente, o paciente que sofre da síndrome de Korsakoff irá utilizar a confabulação caso lhe perguntem algo sobre a sua memória, por exemplo, quando lhe fazem perguntas sobre uma história que acabou de ouvir. As confabulações espontâneas são mais raras e tendem a ser mais bizarras. Geralmente podem ser descritas como a produção engenhosa de memórias passadas. Esta falsificação da memória por parte do doente quando questionado acerca do passado para preencher lacunas produzidas pela amnésia envolve factos anteriores e verosímeis mas temporalmente desconexos. Por exemplo, se perguntarmos onde esteve na noite anterior, o indivíduo poderá responder que esteve a jogar cartas numa casa de amigos. Ele não esteve ali, mas era seu costume no passado ir até a casa desses amigo para jogar cartas.
Um aspecto interessante da perturbação de memória, característica da síndrome de Korsakoff, é a ruptura da capacidade de estar consciente das relações temporais e usá-las para guiar ou avaliar as suas respostas. Os pacientes tendem a mostrar-se indiferentes à cronologia dos acontecimentos ao relembrar eventos remotos, assim, expõem sequências impossíveis de acontecimentos, tais como haver televisão antes da segunda guerra mundial. Quando lhes é pedido que respondam a perguntas sobre acontecimentos passados, exprimem a primeira associação que lhes veio à cabeça mesmo que não seja uma resposta apropriada à pergunta que foi feita. Apesar de todas estas anomalias resultantes da amnésia, o doente não está consciente do seu problema.
Outras funções cognitivas são directamente afectadas pelas lesões das estruturas cerebrais, a atenção é uma delas: em tarefas realizadas para testar a atenção, os pacientes de Korsakoff apresentavam desempenhos fracos nalgumas tarefas e não eram susceptíveis de retomar actividades que tenham sido interrompidas. Além disso, no reconhecimento de estímulos visuais, estes doentes apresentavam tempos superiores aos dos sujeitos saudáveis (85 segundos para os doentes de Korsakoff, 25 segundos para os saudáveis). O reconhecimento de estímulos auditivos também se apresentava mais lento nos doentes.
Dado a natureza das estruturas afectadas nesta síndrome, é natural que os comportamentos emocionais também se mostrem alterados. O doente de Korsakoff revela uma apatia acentuada, que se manifesta na falta de interesse, curiosidade acerca do passado, presente e futuro, assim como uma falta de iniciativa. É igualmente possível que o doente seja atingido por uma insipidez emocional com capacidade para irritabilidade momentânea, raiva ou prazer que rapidamente desaparece quando o estímulo desaparece ou a conversa muda de tema. A inércia que se faz sentir nesta síndrome adicionada às profundas perturbações de memória fazem do doente de Korsakoff uma pessoa muito dependente, necessitada de supervisionamento por parte de outros.
Apesar de ser uma doença relativamente rara, é necessário estar atento a certos sinais que possam indicar a presença desta síndrome nos indivíduos, principalmente se estes possuem uma história de alcoolismo e apresentam dificuldades de memória, nestes casos é importante considerar a possibilidade de uma síndrome de Korsakoff.
Para diagnosticar o problema, é necessário a realização de exames mentais. Além disso, a tendência do doente para confabular deverá revelar se sofre ou não da síndrome, para isso, é verificada a retenção por parte do paciente de informação factual (perguntar por exemplo quem é o presidente), pode-se avaliar também a capacidade do indivíduo para aprender informação nova (repetindo uma série de números, ou relembrando o nome de três objectos que o paciente tivera que memorizar 10 minutos antes.)
Quanto ao prognóstico, convém salientar que 20% a 50% dos pacientes hospitalizados sofrendo da síndrome de Korsakoff vêem a falecer.
Embora o grau de ataxia, melhore na maioria dos casos com tratamento, metade dos doentes que sobrevivem continuam a ter permanentes dificuldades em andar.
A melhoria dos sintomas da síndrome de Korsakoff pode levar meses de reposição de tiamina. Além disso, os pacientes que desenvolveram a síndrome de Korsakoff revelam quase todos defeitos de memória o resto das suas vidas. Mesmo com tratamento de tiamina, os défices de memória são irreversíveis. No entanto, o progresso da doença de Korsakoff pode ser travado se a pessoa se abstiver totalmente de beber álcool, adoptar uma dieta saudável com um possível suplemento vitamínico e receber um tratamento com reposição de tiamina.
Todos estes procedimentos podem ser evitados se a pessoa tomar medidas de prevenção para evitar ser atingida pela doença. A prevenção depende da manutenção por parte de cada um de uma dieta suficiente em tiamina, ou complementando uma dieta inadequada com vitaminas. Uma das mais importantes formas de prevenção envolve sem dúvida tratar a dependência alcoólica (alcoolismo) subjacente à doença.
Concluindo, a síndrome de Korsakoff é uma doença neuropsicológica que se manifesta maioritariamente nos alcoólicos devido ao seu estilo e dieta pobre em alimentos nutritivos levando a défices vitamínicos que provocam lesões irreversíveis nas estruturas cerebrais. Estas lesões têm graves repercussões nomeadamente na memória, funções cognitivas e comportamentos emocionais. A amnésia é o traço mais característico desta síndrome que conjuntamente com as outras perturbações comportamentais torna o doente num indivíduo muito limitado e dependente.


Referências Bibliográficas:

Kolb, B. & Whishaw, I.Q. (2003 5ª edição). Fundamentals of Human Neuropsychology, NY: Worth Publishers


Fama, R., Marsh L., Sullivan E. V. (2003). Dissociation of remote anterograde memory impairment and neural correlates in alcoholic Korsakoff syndrome. Journal of the International Neuropsychological Society, 10 427-441

Bellach, A., Bonifacio, S. & Ramos, F. (1995, vol.1) Manual de psicopatologia. McGrow-Hill: Interamericana de España.

nº 23192 - Zara Vilhena Mesquita

Infância Perdida

A todos os pais e mães
Aos Educadores em geral...
A ti, menino,
Esquecido no silêncio dos tempos,
Perdido no Jardim de Infância...
A ti Agradeço, a lágrima, o sorriso,
A mão frágil que derruba os muros da pacata indiferença,
Num mundo que agora desperta
E olha por ti.


Vinagreiro e Peixoto (2000)

PSICOLOGIA DAS ORGANIZAÇÕES: WARR, Peter (2001) Age and personal initiative at Work, European Journal of Organizational Psychology,10, pp.343-353


O presente artigo trata-se de um estudo concluído no ano de 2001 por investigadores da Universidade de Sheffield no Reino Unido e Universidade de Giessen na Alemanha. O estudo contou com a participação de trabalhadores de ambos os sexos em regime de full-time, residentes em Dresden na Alemanha, tendo como foco a análise da iniciativa pessoal para o trabalho e iniciativa pessoal para o envolvimento em actividades de aprendizagem em função da idade dos indivíduos, em combinação com características demográficas e do próprio trabalho.

Conforme abordam os autores, os psicólogos têm-se dedicado principalmente ao estudo das variáveis cognitivas em relação ao padrão de idade dos trabalhadores, mas como refere Warr, o campo de estudo deve ser expandido para a análise de variáveis não-cognitivas, relacionadas com o estilo comportamental, que no caso do estudo em questão refere-se à iniciativa pessoal para o trabalho e para o envolvimento em actividades de aprendizagem.
A iniciativa pessoal para o trabalho envolve uma série de características que apresentam uma forte correlação com a orientação para acção, controlo, responsabilidade, mudança, etc., que segundo resultados de estudos elaborados neste âmbito não apresentam diferenças significativas nas diferentes idades. Em contrapartida, a iniciativa pessoal para implementar ou aumentar o auto-desenvolvimento com o envolvimento em actividades de aprendizagem tem uma tendência para diminuir à medida que aumenta a idade dos sujeitos.
A iniciativa pessoal é um conceito que vai de encontro à realidade actual do mercado de trabalho caracterizada pelas rápidas mudanças, o avanço tecnológico, a competitividade, a necessidade de maior flexibilização nas carreiras, etc.
A discriminação em relação à idade no contexto de trabalho é muito comum e muitas vezes baseada em percepções infundadas, daí que os autores salientam a necessidade de se testar empiricamente para justificar ou refutar tais percepções.
Os autores partiram das hipóteses de que a iniciativa pessoal para o envolvimento em actividades de aprendizagem têm tendência a diminuir à medida que a idade dos indivíduos aumenta e a iniciativa pessoal para o trabalho mantém-se inalterada ao longo do percurso laboral dos indivíduos.
O estudo realizou-se através de seis etapas de entrevistas com os dados recolhidos entre 1990 e 1995 por psicólogos e estudantes de gestão. A amostra foi seleccionada aleatoriamente tendo sido a adesão de 67 %, e embora se tenha perdido um número considerável da amostra nas etapas finais, esta manteve-se relativamente estável, permitindo a generalização para a população.
Até à 3ª fase, o estudo contou com a participação de 331 indivíduos trabalhadores efectivos, nas últimas fases o número de participantes foi reduzido para 250, sendo 135 do sexo masculino e 115 do feminino. A amostra também incluiu os cônjuges no caso de participantes que tinham parceiro (N=118), 63 do sexo masculino e 55 do feminino.
Foram aplicadas entrevistas semi-estruturadas e escalas de auto-iniciativa para preenchimento por parte dos participantes e escalas para verificar os comportamentos observados nos sujeitos. A mesma escala aplicada aos sujeitos foi alargada numa última fase do estudo para ser preenchida pelos cônjuges em relação aos participantes.
Nos instrumentos utilizados foi efectuada a combinação de quatro medidas: a iniciativa geral no trabalho; a persistência face aos obstáculos; o comportamento activo face às dificuldades laborais e a impressão geral dos entrevistadores.
As questões sobre a iniciativa geral no trabalho foram formuladas directamente mediante os comportamentos anteriores no trabalho em conjunto com o aparecimento de problemas que os entrevistadores iam colocando aos entrevistados relativamente às questões laborais.
Na averiguação acerca da persistência face aos obstáculos os participantes foram submetidos a quatro tipos de situações onde teriam que responder o procedimento adoptado para ultrapassar os obstáculos propostos. Os entrevistadores contabilizaram o número de barreiras superadas.
Em relação ao comportamento face às dificuldades utilizou-se uma escala de cinco pontos para se obter a impressão dos investigadores em relação aos comportamentos observados nos participantes. Tentou-se deste modo verificar se os participantes ultrapassavam as barreiras propostas de forma mais activa ou mais passiva.
A impressão geral dos entrevistadores foi medida através de uma escala de cinco pontos na qual o entrevistador expressava a sua opinião acerca do inquirido.
Os instrumentos utilizados no estudo foram devidamente testados e apresentaram uma consistência interna alta demonstrada através do coeficiente de alpha (.75 e .74), o que nos leva a pensar que os mesmos medem efectivamente as variáveis do estudo de forma rigorosa, de acordo com os objectivos propostos.
Os instrumentos foram aplicados aos participantes por psicólogos e estudantes de gestão, que treinaram durante dois dias através de técnicas de role-playing. As entrevistas tiveram a duração de cerca de uma hora e meia.
Os resultados obtidos permitiram observar que a qualificação educacional, nível de trabalho, controlo e complexidade do mesmo são importantes preditores das duas formas de iniciativa pessoal, uma vez que podem facilitar ou dificultar a acção laboral dos sujeitos.
Os autores ao aplicarem a regressão múltipla dos resultados, verificaram que nos indivíduos do sexo masculino a idade não parece alterar a iniciativa pessoal para o trabalho dos sujeitos. Contudo o mesmo não acontece relativamente à iniciativa para a educação que decresce consideravelmente conforme o aumento da idade no caso dos indivíduos do sexo masculino.
Em relação aos participantes do sexo feminino a sua auto-percepção era a de uma alta iniciativa para o trabalho, percepção esta que não correspondia à realidade, uma vez que os resultados obtidos revelaram que a iniciativa para o trabalho diminuiu significativamente com o aumento da idade. Relativamente à iniciativa para a educação verificou-se que no caso do sexo feminino não se altera com a idade.
Um factor que poderá ter influenciado as diferenças dos resultados entre os sexos masculino e feminino poderá ser a situação sócio-económica do país em que foi realizado o estudo (Alemanha) se encontrava devido a condicionalismos de origem político que alteraram significativamente a realidade social vivida na região onde foram efectuados os testes.
Tendo em conta o sistema político que vigorava na Alemanha de Leste, é fácil percepcionar que os indivíduos não teriam muita iniciativa pessoal, em particular as mulheres que se encontravam numa sociedade demasiado castradora, estando já sujeitas a uma série de condicionalismos impostos pela sua condição.
As críticas que podemos fazer a este estudo prendem-se com factores tais como a realidade socio-política existente em Dresden na altura que o estudo foi efectuado, não tendo sido feito nenhum estudo paralelo de análise dos possíveis impactos desta realidade nos resultados obtidos.
De igual modo, não foi especificado a partir de que idade a decadência para a iniciativa de aquisição de novas competências se torna evidente ou mais pronunciada.
Verificou-se também que existe um espaço de tempo deveras significativo entre a recolha dos dados e a efectivação do estudo, o que pode explicar algumas das conclusões obtidas pelos investigadores.
Quanto a possíveis sugestões, estas prendem-se essencialmente com uma maior atenção que deveria ter sido tomada em consideração acerca das variáveis passíveis de influenciarem o estudo, e/ou o estudo da dimensão dessa mesma influencia.
Igualmente benéfica teria sido um alargar do estudo a um espectro diversificado de profissões, comparando-as posteriormente umas com as outras (servindo as profissões como variável moderadora), relativamente ao grau de exigência específica de cada uma, bem como o nível requerido de iniciativa para aquisição de novas competências que tais profissões exigem.
Poderia ainda realizar-se um estudo sobre a iniciativa do trabalho das mulheres mais velhas, visto que os resultados evidenciam diferenças em relação à convicção individual das mesmas sobre a iniciativa para o trabalho, e o que sucede na realidade: um decréscimo da iniciativa para o trabalho em mulheres mais velhas.

nº 23192 - Zara Vilhena Mesquita

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Sonho versus Realidade

Fiz-me psiquiatra para não ir ao psiquiatra; psicanalista, na procura de me entender; professor, com a finalidade de aprender. Egoisticamente, tornei-me relacional - o sabor da vida refinou-me o gosto pelas pessoas. Sempre viajando: entre sonhos, no pensamento: com gente, na realidade.
Sei pouco, mas julgo saber bem aquilo que sei.
Coimbra de Matos, Percursos (2007)

Sonho

"Nascemos de um sonho, vivemos no sonho, morremos quando o sonho acaba. E a cura analítica não é mais do que a abertura ao sonho; acaba quando o paciente sabe sonhar."

António Coimbra de Matos in Mais amor- Menos doença

Trocadilhos - "Psicanálise no Divã"


Com pensar
Com sentir
Com seguir
Com paixão

Eduardo Sá

terça-feira, 15 de setembro de 2009

COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL: Contrato Psicológico

“o contrato psicológico constitui as percepções de ambas as partes da relação laboral, organização e indivíduo, das obrigações implícitas da relação. O contrato psicológico é o processo social pelo qual se chega a estas percepções.”
Argyris (1960)



“o produto em grande parte implícito e tácito de expectativas mútuas que frequentemente antecede as relações de trabalho”.
Levinson et al.



“conjunto de expectativas não escritas que influem, em todos os momentos, entre cada membro de uma organização e […] outros membros dessa mesma organização”.
Schein (1980)



“o conjunto das percepções que os empregados têm sobre as obrigações recíprocas entre si e a organização.”
Rousseau

PSICOLOGIA DA SAÚDE: Anorexia Nervosa



A anorexia nervosa está classificada como uma perturbação do comportamento alimentar, constituída essencialmente por uma excessiva perda de peso, surgindo predominantemente em indivíduos do sexo feminino, sobretudo em adolescentes e jovens.
O diagnóstico, que nem sempre é feito com a precocidade devida, deve ser elaborado de forma a ter em conta os principais factores que explicam o emagrecimento.
O medo de engordar faz com que os doentes adoptem um comportamento destinado a alcançar os objectivos idealizados, mesmo que para isso tenham que deixar de comer e/ou utilizar métodos mais drásticos. Portanto, quando a doença atinge o seu pleno desenvolvimento o doente já perdeu muito peso.
Os doentes anoréxicos distorcem a sua imagem corporal porque têm tendência a considerar-se mais gordos do que na realidade são, mesmo estando francamente emagrecidos. A actividade física, intelectual, escolar e social não sofre, em regra, grande alteração ao longo da doença. Estes doentes são normalmente bons estudantes, mantendo ou acentuando o interesse pelos estudos.
Conclui-se que ao nível somático é habitual encontrar pacientes com uma apresentação física demasiado chocante para as pessoas que se encontram dentro de um padrão de normalidade. Por outro lado, do ponto de vista psicológico, os doentes anoréxicos apresentam, na sua grande maioria, uma personalidade rígida e obsessiva, pelo que o medo de aumentarem de peso e de se tornarem pessoas obesas transforma-se numa autêntica obsessão, não deixando de reflectir uma personalidade depressiva.
As possíveis causas psicológicas apontadas são de ordem afectiva, especialmente na infância. Por exemplo, uma decepção sentimental ou problemas familiares podem provocar o aparecimento desta doença.
A anorexia pode ser um sintoma nos distúrbios mentais (distúrbio comportamental, funcional ou orgânico, suficientemente grave e que necessite de ajuda de profissionais). Assim, a constatação do seu típico conjunto de sintomas, torna-se imprescindível para estabelecer um diagnóstico preciso que a distinga de outras doenças psiquiátricas, que apresentam como uma das suas características a diminuição do apetite e consequente perda de peso.
Relativamente à abordagem terapêutica, devemos entender que cabe ao terapeuta decidir qual deve implementar, tendo em conta a sua orientação teórica. A terapia cognitivo-comportamental apresenta resultados mais eficazes, segundo os autores.
É pertinente referir que o Psicólogo da Saúde é promotor de comportamentos saudáveis e que, através de programas de intervenção, inutiliza as crenças irracionais que normalmente se vão enraizando no processo de desenvolvimento de cada pessoa e que dificilmente são trocadas pelas mais correctas. Para além disso, mas não menos importante, é a aposta, por parte destes técnicos, na prevenção, tentando diminuir ou mesmo extinguir o surgimento de doenças e perturbações, que muitas vezes provêm de pensamentos distorcidos e porque não são fornecidas estratégias para a pessoa lidar com situações conflituosas com que se depara ao longo da sua vida.
A complexidade do transtorno (Anorexia Nervosa) incita à necessidade de um trabalho em equipa para melhor auxiliar os jovens com este comportamento problemático.

nº23192 - Zara Vilhena Mesquita

Referências Bibliográficas

Backmund, H., Gerlinghoff, M. (1997). Anorexia e Bulimia. (1ª Edição). Lisboa: Editorial Presença.

Bouça, D. (2000). Anorexia Nervosa minha amiga. ((2ª Edição). Porto: Ambar.

Bryan, L., Bryant-Waugh, R. (2002). Doenças do comportamento alimentar: um guia para os pais. (1ª Edição). Lisboa: Editorial Presença.

Raich, Mª., R. (2001). A Anorexia e Bulimia. Amadora: Editora McGraw-Hill.

Sampaio, D. (1998). Vivemos livres numa prisão. Lisboa: Edições Caminho.

Toro, J., Vilardell, E. (1987). Anorexia Nerviosa. Barcelona: Martínez Roca - libros universitários e professionales.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

O Poema do Conselho Geral da UAlg

Sonhos deitados ao vento,
Com a esperança de querer ser
Quem não sou
Viajei por entre mundos nunca antes navegados
Sentindo que a vida é de todo um mistério
Inalcansável porém

Subi ao esplendor do ser, rodeado de cores
Todos os momentos que quis não conhecer
Acabei por ver
Senti que todos não são mais do que um

Vivi por entre as penumbras de um caminho rochoso
Ainda que as suas areias me rodopiem a alma
Desenhei por entre as ondas do mar o teu nome
E sonhei o tempo de não ser quem sou

Desci os astros do mundo, voei por entre os anjos
E sorri com o silêncio de não querer ser triste
Apenas conheci o que não queria conhecer

Não mais palavras quero balbuciar
Apenas pretendo descansar na sombra do meu vento
Ou talvez do teu vento
Pintando as águas do meu corpo
Sobressaio por entre um Deus que não me acolheu
Aqui delineei a alma só para sonhar um pouco mais alto com a tranquilidade.

by Zara Ramalho

24 de Agosto de 2009

Nome - Tu e Eu

PSICOLOGIA SOCIAL: Construção Psicossocial da Sexualidade


A construção psicossocial da sexualidade, afigura-se como um tema complexo, vasto – nem sempre consistente e coordenado – e abrangente, susceptível de múltiplas abordagens (perspectiva psicológica, biológica, fisiológica, sociológica), mas também aliciante e motivador.
Quanto à abordagem histórico-social parece importante frisar que a Bíblia – o texto fundamental de referência para os Cristãos e que tanto marcou as dinâmicas sociais no Ocidente, está longe de ser anti-sexual, apesar das contradições e da opressão sexual que esta significou, na medida em que estava inerente ao contexto histórico em que os textos foram produzidos. Em suma, as restrições sexuais que têm sido associadas à religião Cristã foram resultantes de depurações posteriores e o que lemos hoje na Bíblia não deixa de ser uma reconstrução onde o passado e o presente se misturam.
No que se refere ao período que atravessa o Antigo Regime, o Renascimento, o Iluminismo e que vai até aos inícios do século XVIII, podemos referir que no fundo não apresentam grandes mudanças relativamente à forma de encarar a sexualidade, nem por parte da igreja, nem por parte da sociedade em geral, por ela tão influenciada. Será então com o Iluminismo (e com a união da técnica e da ciência) que começam a desabrochar aqueles que serão os primeiros indícios da nova mentalidade e forma de viver a sexualidade em família e a forma de a encarar em sociedade. É em meados do século XVIII que se opera a separação entre a sociedade tradicional e a sociedade moderna, o que traz transformações ao nível da grande liberalização dos grandes costumes e a vida conjugal/relações íntimas são libertadas da supervisão comunitária.
Este novo modo de vida produz novas problemáticas que são por sua vez causa e consequência da crescente modernização e aqui encontramos os mass media que representam os mais importantes veículos de informação na nossa sociedade global.
É no contexto destas grandes transformações que esta problemática (sexualidade) tem sido objecto de importantes estudos e contributos da análise psicológica em parceria com outras áreas científicas (interdisciplinaridade).
No que concerne, à análise dos estudos sobre o amor, perspectivados sob a ampla temática da atracção interpessoal , constatou-se que este é um sentimento universal, manifestado sob diferentes formas e intensidade, e construído socialmente (‘encenações culturais’ – Simon e Gagnon, 1986-87).
Na perspectiva sociológica, a interacção é comandada pelas ligações sócio-sexuais via afecto – que nos conduz à noção de amor que consiste no sentimento que compõe qualquer relação afectiva, variável consoante o contexto cultural, mas contudo podemos identificar aspectos comuns entre os diferentes sistemas sociais: a existência de permuta afectiva, solicitude recíproca, tendência para a solidariedade e partilha participada da experiência quotidiana (Alferes, 1997)
No ponto de vista psicológico ou existencial, a ligação entre sexo e amor reveste-se de três formas principais – conjugal, passional, libidinal. Entre as abordagens estudadas salientam-se os modelos de amor de Kelley, e enfatiza-se o caso particular do amor passional. No que se refere à abordagem dos processos de interpretação e leitura da sexualidade, admite-se a dicotomia instinto/norma. Esta dicotomia refere-se à análise dos comportamentos sexuais sob a perspectiva dos princípios biológicos (‘instinto’) e também à luz dos processos da regulação social da sexualidade (“norma”).
A abordagem biológica da sexualidade, possui um mais longo percurso científico, em comparação com os estudos psicossociais, visto a persistência do postulado biológico, nos estudos sexológicos. Deste modo, tornaram-se objecto de análise os primeiros estudos sexológicos que se centravam sobretudo nos comportamentos sexuais desviantes ou patológicos, seguindo-se um movimento de abertura à expressão da diversidade na sexualidade (por exemplo, os estudos de Havelock Ellis (1936) acerca da homossexualidade), perspectivando-se os problemas comportamentais relativos à sexualidade sob o prisma das disfunções psicológicas, em detrimento das explicações de cariz meramente biológico.
Do ponto de vista da abordagem dos processos de regulação social da sexualidade, impreterivelmente dá-se significativa importância à influência das normas e condutas socialmente determinadas e diferentes formas de exercer a pressão normativa sobre os indivíduos, no contexto de determinadas instituições como a família, religião ou legislação. Concluí-se que nas sociedades ocidentais modernas, onde imperam os valores da democracia e liberdade, o controlo normativo tem sido cada vez menos restritivo, aceitando-se cada vez mais a diversidade interpessoal e a expressão da individualidade.
Apesar da sexualidade humana ter sido ao longo dos tempos objecto de imensas especulações, tabus e estigmas, afigura-se como uma temática a explorar, sendo pertinente em qualquer momento da vida do ser humano.

nº 23192 - Zara Vilhena Mesquita


Referências Bibliográficas:

Alberoni, Francesco (1979). Enamoramento e Amor. Lisboa: Bertrand Editora.

Alferes, V. M. (1997). Encenações e comportamentos sexuais: para uma psicologia social da sexualidade. Porto: Afrontamento.

Duby, G. (1981). Amor e Sexualidade no Ocidente. Mem martins: Terramar.

Pacheco, J. (1998). O tempo e o sexo. Lisboa: Livros Horizonte.

Saraga, E. (s/d). Embodying the social: Constructions of difference. London: Routledge.

Shorter, E. (1995). A formação da família moderna.Lisboa: Terramar.

Vala, Jorge. (2002). A atracção interpessoal. In V.R. Alferes. Psicologia Social. (pp.125 – 158). Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.