segunda-feira, 21 de setembro de 2009

PSICOLOGIA DAS ORGANIZAÇÕES: WARR, Peter (2001) Age and personal initiative at Work, European Journal of Organizational Psychology,10, pp.343-353


O presente artigo trata-se de um estudo concluído no ano de 2001 por investigadores da Universidade de Sheffield no Reino Unido e Universidade de Giessen na Alemanha. O estudo contou com a participação de trabalhadores de ambos os sexos em regime de full-time, residentes em Dresden na Alemanha, tendo como foco a análise da iniciativa pessoal para o trabalho e iniciativa pessoal para o envolvimento em actividades de aprendizagem em função da idade dos indivíduos, em combinação com características demográficas e do próprio trabalho.

Conforme abordam os autores, os psicólogos têm-se dedicado principalmente ao estudo das variáveis cognitivas em relação ao padrão de idade dos trabalhadores, mas como refere Warr, o campo de estudo deve ser expandido para a análise de variáveis não-cognitivas, relacionadas com o estilo comportamental, que no caso do estudo em questão refere-se à iniciativa pessoal para o trabalho e para o envolvimento em actividades de aprendizagem.
A iniciativa pessoal para o trabalho envolve uma série de características que apresentam uma forte correlação com a orientação para acção, controlo, responsabilidade, mudança, etc., que segundo resultados de estudos elaborados neste âmbito não apresentam diferenças significativas nas diferentes idades. Em contrapartida, a iniciativa pessoal para implementar ou aumentar o auto-desenvolvimento com o envolvimento em actividades de aprendizagem tem uma tendência para diminuir à medida que aumenta a idade dos sujeitos.
A iniciativa pessoal é um conceito que vai de encontro à realidade actual do mercado de trabalho caracterizada pelas rápidas mudanças, o avanço tecnológico, a competitividade, a necessidade de maior flexibilização nas carreiras, etc.
A discriminação em relação à idade no contexto de trabalho é muito comum e muitas vezes baseada em percepções infundadas, daí que os autores salientam a necessidade de se testar empiricamente para justificar ou refutar tais percepções.
Os autores partiram das hipóteses de que a iniciativa pessoal para o envolvimento em actividades de aprendizagem têm tendência a diminuir à medida que a idade dos indivíduos aumenta e a iniciativa pessoal para o trabalho mantém-se inalterada ao longo do percurso laboral dos indivíduos.
O estudo realizou-se através de seis etapas de entrevistas com os dados recolhidos entre 1990 e 1995 por psicólogos e estudantes de gestão. A amostra foi seleccionada aleatoriamente tendo sido a adesão de 67 %, e embora se tenha perdido um número considerável da amostra nas etapas finais, esta manteve-se relativamente estável, permitindo a generalização para a população.
Até à 3ª fase, o estudo contou com a participação de 331 indivíduos trabalhadores efectivos, nas últimas fases o número de participantes foi reduzido para 250, sendo 135 do sexo masculino e 115 do feminino. A amostra também incluiu os cônjuges no caso de participantes que tinham parceiro (N=118), 63 do sexo masculino e 55 do feminino.
Foram aplicadas entrevistas semi-estruturadas e escalas de auto-iniciativa para preenchimento por parte dos participantes e escalas para verificar os comportamentos observados nos sujeitos. A mesma escala aplicada aos sujeitos foi alargada numa última fase do estudo para ser preenchida pelos cônjuges em relação aos participantes.
Nos instrumentos utilizados foi efectuada a combinação de quatro medidas: a iniciativa geral no trabalho; a persistência face aos obstáculos; o comportamento activo face às dificuldades laborais e a impressão geral dos entrevistadores.
As questões sobre a iniciativa geral no trabalho foram formuladas directamente mediante os comportamentos anteriores no trabalho em conjunto com o aparecimento de problemas que os entrevistadores iam colocando aos entrevistados relativamente às questões laborais.
Na averiguação acerca da persistência face aos obstáculos os participantes foram submetidos a quatro tipos de situações onde teriam que responder o procedimento adoptado para ultrapassar os obstáculos propostos. Os entrevistadores contabilizaram o número de barreiras superadas.
Em relação ao comportamento face às dificuldades utilizou-se uma escala de cinco pontos para se obter a impressão dos investigadores em relação aos comportamentos observados nos participantes. Tentou-se deste modo verificar se os participantes ultrapassavam as barreiras propostas de forma mais activa ou mais passiva.
A impressão geral dos entrevistadores foi medida através de uma escala de cinco pontos na qual o entrevistador expressava a sua opinião acerca do inquirido.
Os instrumentos utilizados no estudo foram devidamente testados e apresentaram uma consistência interna alta demonstrada através do coeficiente de alpha (.75 e .74), o que nos leva a pensar que os mesmos medem efectivamente as variáveis do estudo de forma rigorosa, de acordo com os objectivos propostos.
Os instrumentos foram aplicados aos participantes por psicólogos e estudantes de gestão, que treinaram durante dois dias através de técnicas de role-playing. As entrevistas tiveram a duração de cerca de uma hora e meia.
Os resultados obtidos permitiram observar que a qualificação educacional, nível de trabalho, controlo e complexidade do mesmo são importantes preditores das duas formas de iniciativa pessoal, uma vez que podem facilitar ou dificultar a acção laboral dos sujeitos.
Os autores ao aplicarem a regressão múltipla dos resultados, verificaram que nos indivíduos do sexo masculino a idade não parece alterar a iniciativa pessoal para o trabalho dos sujeitos. Contudo o mesmo não acontece relativamente à iniciativa para a educação que decresce consideravelmente conforme o aumento da idade no caso dos indivíduos do sexo masculino.
Em relação aos participantes do sexo feminino a sua auto-percepção era a de uma alta iniciativa para o trabalho, percepção esta que não correspondia à realidade, uma vez que os resultados obtidos revelaram que a iniciativa para o trabalho diminuiu significativamente com o aumento da idade. Relativamente à iniciativa para a educação verificou-se que no caso do sexo feminino não se altera com a idade.
Um factor que poderá ter influenciado as diferenças dos resultados entre os sexos masculino e feminino poderá ser a situação sócio-económica do país em que foi realizado o estudo (Alemanha) se encontrava devido a condicionalismos de origem político que alteraram significativamente a realidade social vivida na região onde foram efectuados os testes.
Tendo em conta o sistema político que vigorava na Alemanha de Leste, é fácil percepcionar que os indivíduos não teriam muita iniciativa pessoal, em particular as mulheres que se encontravam numa sociedade demasiado castradora, estando já sujeitas a uma série de condicionalismos impostos pela sua condição.
As críticas que podemos fazer a este estudo prendem-se com factores tais como a realidade socio-política existente em Dresden na altura que o estudo foi efectuado, não tendo sido feito nenhum estudo paralelo de análise dos possíveis impactos desta realidade nos resultados obtidos.
De igual modo, não foi especificado a partir de que idade a decadência para a iniciativa de aquisição de novas competências se torna evidente ou mais pronunciada.
Verificou-se também que existe um espaço de tempo deveras significativo entre a recolha dos dados e a efectivação do estudo, o que pode explicar algumas das conclusões obtidas pelos investigadores.
Quanto a possíveis sugestões, estas prendem-se essencialmente com uma maior atenção que deveria ter sido tomada em consideração acerca das variáveis passíveis de influenciarem o estudo, e/ou o estudo da dimensão dessa mesma influencia.
Igualmente benéfica teria sido um alargar do estudo a um espectro diversificado de profissões, comparando-as posteriormente umas com as outras (servindo as profissões como variável moderadora), relativamente ao grau de exigência específica de cada uma, bem como o nível requerido de iniciativa para aquisição de novas competências que tais profissões exigem.
Poderia ainda realizar-se um estudo sobre a iniciativa do trabalho das mulheres mais velhas, visto que os resultados evidenciam diferenças em relação à convicção individual das mesmas sobre a iniciativa para o trabalho, e o que sucede na realidade: um decréscimo da iniciativa para o trabalho em mulheres mais velhas.

nº 23192 - Zara Vilhena Mesquita

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