terça-feira, 8 de setembro de 2009

PSICOLOGIA SOCIAL: Construção Psicossocial da Sexualidade


A construção psicossocial da sexualidade, afigura-se como um tema complexo, vasto – nem sempre consistente e coordenado – e abrangente, susceptível de múltiplas abordagens (perspectiva psicológica, biológica, fisiológica, sociológica), mas também aliciante e motivador.
Quanto à abordagem histórico-social parece importante frisar que a Bíblia – o texto fundamental de referência para os Cristãos e que tanto marcou as dinâmicas sociais no Ocidente, está longe de ser anti-sexual, apesar das contradições e da opressão sexual que esta significou, na medida em que estava inerente ao contexto histórico em que os textos foram produzidos. Em suma, as restrições sexuais que têm sido associadas à religião Cristã foram resultantes de depurações posteriores e o que lemos hoje na Bíblia não deixa de ser uma reconstrução onde o passado e o presente se misturam.
No que se refere ao período que atravessa o Antigo Regime, o Renascimento, o Iluminismo e que vai até aos inícios do século XVIII, podemos referir que no fundo não apresentam grandes mudanças relativamente à forma de encarar a sexualidade, nem por parte da igreja, nem por parte da sociedade em geral, por ela tão influenciada. Será então com o Iluminismo (e com a união da técnica e da ciência) que começam a desabrochar aqueles que serão os primeiros indícios da nova mentalidade e forma de viver a sexualidade em família e a forma de a encarar em sociedade. É em meados do século XVIII que se opera a separação entre a sociedade tradicional e a sociedade moderna, o que traz transformações ao nível da grande liberalização dos grandes costumes e a vida conjugal/relações íntimas são libertadas da supervisão comunitária.
Este novo modo de vida produz novas problemáticas que são por sua vez causa e consequência da crescente modernização e aqui encontramos os mass media que representam os mais importantes veículos de informação na nossa sociedade global.
É no contexto destas grandes transformações que esta problemática (sexualidade) tem sido objecto de importantes estudos e contributos da análise psicológica em parceria com outras áreas científicas (interdisciplinaridade).
No que concerne, à análise dos estudos sobre o amor, perspectivados sob a ampla temática da atracção interpessoal , constatou-se que este é um sentimento universal, manifestado sob diferentes formas e intensidade, e construído socialmente (‘encenações culturais’ – Simon e Gagnon, 1986-87).
Na perspectiva sociológica, a interacção é comandada pelas ligações sócio-sexuais via afecto – que nos conduz à noção de amor que consiste no sentimento que compõe qualquer relação afectiva, variável consoante o contexto cultural, mas contudo podemos identificar aspectos comuns entre os diferentes sistemas sociais: a existência de permuta afectiva, solicitude recíproca, tendência para a solidariedade e partilha participada da experiência quotidiana (Alferes, 1997)
No ponto de vista psicológico ou existencial, a ligação entre sexo e amor reveste-se de três formas principais – conjugal, passional, libidinal. Entre as abordagens estudadas salientam-se os modelos de amor de Kelley, e enfatiza-se o caso particular do amor passional. No que se refere à abordagem dos processos de interpretação e leitura da sexualidade, admite-se a dicotomia instinto/norma. Esta dicotomia refere-se à análise dos comportamentos sexuais sob a perspectiva dos princípios biológicos (‘instinto’) e também à luz dos processos da regulação social da sexualidade (“norma”).
A abordagem biológica da sexualidade, possui um mais longo percurso científico, em comparação com os estudos psicossociais, visto a persistência do postulado biológico, nos estudos sexológicos. Deste modo, tornaram-se objecto de análise os primeiros estudos sexológicos que se centravam sobretudo nos comportamentos sexuais desviantes ou patológicos, seguindo-se um movimento de abertura à expressão da diversidade na sexualidade (por exemplo, os estudos de Havelock Ellis (1936) acerca da homossexualidade), perspectivando-se os problemas comportamentais relativos à sexualidade sob o prisma das disfunções psicológicas, em detrimento das explicações de cariz meramente biológico.
Do ponto de vista da abordagem dos processos de regulação social da sexualidade, impreterivelmente dá-se significativa importância à influência das normas e condutas socialmente determinadas e diferentes formas de exercer a pressão normativa sobre os indivíduos, no contexto de determinadas instituições como a família, religião ou legislação. Concluí-se que nas sociedades ocidentais modernas, onde imperam os valores da democracia e liberdade, o controlo normativo tem sido cada vez menos restritivo, aceitando-se cada vez mais a diversidade interpessoal e a expressão da individualidade.
Apesar da sexualidade humana ter sido ao longo dos tempos objecto de imensas especulações, tabus e estigmas, afigura-se como uma temática a explorar, sendo pertinente em qualquer momento da vida do ser humano.

nº 23192 - Zara Vilhena Mesquita


Referências Bibliográficas:

Alberoni, Francesco (1979). Enamoramento e Amor. Lisboa: Bertrand Editora.

Alferes, V. M. (1997). Encenações e comportamentos sexuais: para uma psicologia social da sexualidade. Porto: Afrontamento.

Duby, G. (1981). Amor e Sexualidade no Ocidente. Mem martins: Terramar.

Pacheco, J. (1998). O tempo e o sexo. Lisboa: Livros Horizonte.

Saraga, E. (s/d). Embodying the social: Constructions of difference. London: Routledge.

Shorter, E. (1995). A formação da família moderna.Lisboa: Terramar.

Vala, Jorge. (2002). A atracção interpessoal. In V.R. Alferes. Psicologia Social. (pp.125 – 158). Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.

Nenhum comentário: