quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Herbert Spencer e a sua visão evolucionista da sociedade

Spencer contemporâneo de Karl Marx iniciou a sua vida intelectual nos Estados Unidos onde pronunciou várias conferências, enunciando a partir de então a sua visão evolucionista da sociedade.
Herbert Spencer foi o primeiro sociólogo a aparecer nos manuais de Filosofia e Sociologia. A sua obra principal é o Tratado de Filosofia, em dez volumes, dos quais quatro são dedicados ao equacionamento dos princípios de Sociologia, apresentando nessa altura conceitos que ainda hoje permanecem actuais.
Por essa razão é que foi considerado um dos grandes nomes da Sociologia Clássica e um dos pioneiros da Sociologia Evolucionista, pela agregação e diferenciação da sociedade. Os seus princípios causaram admiração, passando a ser adoptados pelos intelectuais.
Spencer diz que a agregação dos intelectuais como grupo de pressão intelectual tornou-se mais visível e inclusivamente característico das sociedades centralizadas, onde a concorrência das ideias é imperfeita e onde só alguns têm o poder de exercer uma censura discreta sobre as opiniões dos heterodoxos.
Spencer acredita que a densidade social contribui para que as sociedades se diferenciem e a divisão do trabalho aumente.
De uma maneira geral considera-se que o evolucionismo de Spencer é prudente, manifestando-se em três aspectos.
• Em primeiro lugar pode falar-se da lei da evolução dependendo de condições diversas que a favorecem ou a inibem. Esta lei é conhecida por utilizar um conceito anacrónico, como um modelo de forma muito realista.
• Em segundo lugar o tipo de sociedades que depois distingue não deve ser interpretado de forma realista. Spencer insiste constantemente no facto de uma mesma sociedade poder comportar aspectos próprios do tipo militar e do tipo industrial. Assim, nada indica que os conflitos veiculados entre sociedades industrializadas estejam condenados a desaparecer e em consequência uma sociedade industrial não esteja a tomar medidas.
• Em terceiro lugar o que contribui para que Spencer seja um evolucionista “bien temperé” é por que é sensível à complexidade dos determinismos sociais. Os indivíduos tendem a adaptar-se ao sistema social ao qual pertencem.
Num regime militar tendem a manifestar comportamentos de submissão que caracterizam o referido regime. Ao contrário num regime industrial os indivíduos tendem a demonstrar o seu sentido de invenção e iniciativa. Reciprocamente as atitudes do indivíduo facilitam ou inibem o aparecimento ou a manutenção do tal tipo social.
Enfim, Spencer é muito sensível à ideia dum sistema complexo, cujas consequências de mudança podem desenvolver-se em cascata, as quais são dificilmente previsíveis.
Spencer propõe deixar o justo lugar às teorias acidentalistas, insistindo também que a forma do regime político não é o produto dum determinismo restrito.
Pode-se dizer que o Evolucionismo de Spencer é muito mais complexo e subtil que o dos outros sociólogos como Comte ou Durkheim, por exemplo.
Spencer vê que a mudança ou a persistência duma estrutura resulta de relações de causa entre os indivíduos e o sistema.
Segundo um outro ponto de vista, Spencer terá claramente inspirado Durkheim. Na sua perspectiva de Sociologia da Religião, esforça-se por mostrar que as crenças, longe de serem superstições são esquemas interpretativos que o homem desenvolve para dominar o seu meio ambiente.
À medida que as sociedades se tornam mais complexas e que desenvolvem a ciência e a técnica, as representações religiosas transformam-se. Numa sociedade complexa Deus não pode ser encarregado de regulamentar os detalhes da vida quotidiana e não pode ter a palavra sobre todos os assuntos. A sua intervenção é limitada e abandona o poder de ditar a lei aos órgãos laicos.
De qualquer maneira, mesmo nas sociedades modernas, o poder regulador do governo não pode senão influenciar assuntos sobre os quais a tradição os deixa livres de intervir. A religião não é para Spencer uma superstição, não é mais, como queria Durkheim, do que uma adoração da sociedade.
As análises de Spencer sobre esta matéria são com efeito próximas das propostas por Marx Weber.
Spencer está consciente da armadilha do realismo e sabe que as leis da evolução não se aplicam senão a circunstâncias favoráveis, pois a sua teoria de evolução social comporta uma certa ambiguidade. Assim, a evolução conduz, como já se viu, a sociedades de tipo “militar” ou do tipo “industrial”.
O bom funcionamento das leis da evolução não é então garantido: pode-se descrever de múltiplos processos evolutivos, mas os movimentos de retorno ao tipo “militar” não estão jamais excluídos.
Apesar disso, Spencer acredita na evolução. È a Lei da evolução que lhe parece governar não só as sociedades, mas o universo, não só o “supraorgânico”, mas o orgânico, razão pela qual os Princípios da Sociologia são precedidos dos Princípios de Biologia.
Spencer aborda constantemente as analogias entre os fenómenos biológicos e os sociológicos, as noções da função, da estrutura, do equilíbrio, de diferenciação, do orgânico aplicando-se bem aos dois reinos. Para ele, uma sociedade “é um organismo”, mas unicamente no sentido analógico, marcando a sua preocupação, evitando interpretações realistas dos esquemas de inteligibilidade que desenvolve, e o seu “funcionalismo” é bastante mais prudente que o de Durkhheim ou de Brown, por exemplo.

BARATA, Óscar Soares (1982), “A Sociologia de Herbert Spencer”, in Estudos Políticos e Sociais, Lisboa: pp,203-255

nº 23192 - Zara Vilhena Mesquita

Um comentário:

Anônimo disse...

Obrigada pelo texto, você me ajudou muito com o trabalho da faculdade sobre paráfrase do conto Evolução de Machado de Assis.