terça-feira, 1 de dezembro de 2009

PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO: Iniciativa e Relações interpessoais entre crianças dos 3 aos 5 anos

Durante os anos pré-escolares (3 – 5/6 anos), o mundo social da criança revela-se repleto de oportunidades onde a aprendizagem social é feita através de relações sociais, sentimentos dos outros e emoções próprias. Isto acontece devido à existência de um leque diversificado de novas situações, pessoas e ambientes que a criança passa a dispor.
Com o desenvolvimento cognitivo, as crianças passam a ter uma nova visão do mundo social que as rodeia. Nesta altura, existem mudanças significativas na consciência da criança, bem como na imagem que estas têm de si mesmas. Conforme o modo como as crianças assimilaram e acomodaram as informações provenientes de experiências anteriores, algumas tendem a ver-se a si próprias como activas, independentes e persistentes. Por outro lado, estas mudanças também podem conduzir a uma visão negativa delas próprias (incerteza, fracasso).
Apesar de ser por volta do segundo ano de vida que a maior parte das crianças desenvolve um auto-conceito “rudimentar”, é aos 3 anos que o mesmo sofre importantes avanços. Assim, se anteriormente estas possuíam a noção de que tinham características diferentes de outras crianças (identificavam-se ao espelho, distinguiam-se dos demais), por esta altura já conseguem descrever-se em termos gerais, evidenciando características físicas (“Sou rápido”), em detrimento de características psicológicas (“Sou amável”). Este facto leva a que as crianças generalizem as suas capacidades, ou seja, pensam que, se são boas a desenhar, também são igualmente boas a montar um puzzle. Contudo, crianças por volta dos 4 anos já são capazes de diferenciar estes aspectos (Measelle, Ablow, Cowan, & Cowan, 1998). Assim como as crianças desenvolvem um auto-conceito, também desenvolvem uma auto-estima. Estes dois conceitos estão directamente ligados. Deste modo, se uma criança tende a ter uma auto-estima elevada normalmente possui sentimentos positivos em relação em si própria. Se, pelo contrário, uma criança tem uma baixa auto-estima, desenvolve sentimentos negativos acerca de si própria (tristeza, timidez). Uma baixa ou elevada auto-estima depende da relação que as crianças têm com os pais, com os grupos de pares, as condições sociais e culturais, a sua aparência física e as suas experiências. Em relação aos grupos de pares, as crianças com boas relações sociais com outras desenvolvem um auto-conceito positivo e, consequentemente, uma auto-estima positiva. Ser aceite pelas outras crianças é importante para que nos sintamos amados e queridos, e no caso das crianças em idade pré-escolar esta aceitação fornece um suporte social essencial, em relação ao afecto. Por outro lado, as crianças que são rejeitadas pelos grupos de pares tendem a desenvolver dúvidas acerca da sua capacidade de se relacionarem com outras, conduzindo-as à agressão, a um estado de privação e, consequentemente, a uma baixa auto-estima (Asendorpf & Van Aken, 1994; Egan & Perry, 1998; Hartup, 1996).
Para compreendermos melhor o mundo social da criança, é preciso falarmos de um aspecto intrínseco a esta: as emoções. À medida que a criança se depara com diferentes situações, pessoas e ambientes, as suas emoções tornam-se mais complexas e conscientes, quer em relação a si própria quer em relação aos outros. Dada a complexidade das relações sociais, a criança defronta-se com novas emoções: raiva, frustração, agressão. Assim, se as crianças enfrentam novas relações sociais, estão mais vulneráveis a entrar em conflito com outras crianças, e dependendo do mesmo as respostas a este serão diferentes. Á medida que os anos vão passando, as crianças aprendem a resolver os conflitos de forma a não perturbar os outros.
Acções como ajudar, partilhar e a noção de responsabilidade surgem relativamente cedo. Por volta dos 2/3 anos, as crianças já são capazes de partilhar brinquedos e alimentos com os outros, não só com os familiares, mas também com os grupos de pares. De facto, à medida que a criança se desenvolve e as relações sociais alargam, o mundo social desta tende a estender-se a outros membros que não apenas a sua família. Em face disto, as outras crianças vão ganhando cada vez mais importância. Sabe-se até que cerca de 50% das relações sociais da criança envolvem outras crianças (Grusec & Lytton, 1998). Os grupos de pares tendem, no geral, a ter as mesmas características. Como é óbvio, as relações familiares diferem muito destas novas relações que a criança passa a dispor, e nestes parâmetros, a própria criança passa a escolher os seus pares baseando-se em actividades que se tornam mutuamente vantajosas, como é o caso de dar e receber. Para além disso, a criança pode aprender no seu círculo social novas aptidões que não aprenderia num ambiente familiar, como é o caso da cooperação, da reciprocidade, a competição, a mentira, a luta., etc. Todavia, é no seio da família que se pode também encontrar os grupos de pares, como é o caso de irmãos ou irmãs, de idades semelhantes ou até mais novos. A chegada destes irmãos mais novos, por vezes, pode não ser assim tão fácil para a criança. Por vezes, tem efeitos negativos sobre o filho mais velho. Isto acontece devido a uma limitada compreensão da sua relação com o bebé. Este facto pode causar um aumento de sentimentos de agressão, frustração e dependência (Teti, 1992). Contudo, isto normalmente acontece com crianças de 3 e menos anos. A partir desta idade, a criança já entende a chegada do novo membro da família e tornam-se cada vez mais interessadas no novo rebento (Brown & Dunn, 1992) e passam a cooperar, colaborar e brincar com mais frequência.
A amizade entre as crianças faz com que as suas apetências se desenvolvam tais como, a capacidade de resolver conflitos, de estabelecer um pilar importante para a construção de futuras relações. A amizade consiste em estabelecer laços emocionais mútuos, que fazem com que a criança aprenda a controlar as suas emoções e a responder às emoções dos outros (Parker & Gottman, 1989).
Durante a idade pré-escolar a criança aprende a diferenciar os seus verdadeiros amigos, dos colegas de brincadeira, e a amizade torna-se uma base para muitas das decisões evocadas nas interacções sociais (Howes, 1989).
Assim, a qualidade destas relações entre os grupos de pares influenciam significativamente o desenvolvimento da criança. Quem possui relações pobres tem maiores probabilidades de desenvolver problemas psicológicos e comportamentais, que podem levar ao insucesso escolar e à delinquência ( Parker & Asher, 1987)

Bee H. (2000. 9th ed.) The Developing Child. London: Allyn and Bacon.

Berk L. (2000. 5th ed.) Child Development. Boston: Allyn and Bacon.

Berk L. (2002. 4th ed.) Infants and Children. Boston: Allyn & Bacon.

Palacios J., Marchesi A., Coll C. (2001. 2ª ed.) Desarrollo psicológico y educación. Psicología evolutiva. Madrid: Alianza Edit.


nº 23192 - Zara Vilhena Mesquita

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