segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Filme: Duplo Amor - Two Lovers




Leonard, um homem só e apaixonado entre duas mulheres

«Duplo Amor», título português para o mais recente filme do realizador James Gray, retoma aquilo que infelizmente o cinema americano tantas vezes se esquece de fazer: colar a vida ao ecrã exactamente como ela se desenrola. Provavelmente o último filme desse extraordinário actor que é Joaquin Phoenix dado ser sua intenção dedicar-se por inteiro a uma carreira musical, a trama detém-se sobre Leonard (Phoenix) um homem marcado pelo drama no amor. E é por uma tentativa de suicídio de Leonard que a película se inicia, ele que é bipolar intercalando a depressão mais profunda com a euforia desregrada.

Leonard amou muito uma mulher de quem esteve noivo. Mas a descoberta de uma doença que tornava o casal incompatível na hora de ter filhos (se nascessem morreriam antes de completar um ano) levou a sua apaixonada para lugar desconhecido arrastada pelos pais. O jovem amante procurou durante anos a mulher que amava, mas, sem obter o desejado êxito nessa busca, regressa a casa dos pais em Brooklyn, Nova Iorque. Curiosamente, ao longo do filme iremos observar como aos pais, nomeadamente à mãe Ruth (Isabela Rossellini), apenas interessa a felicidade do filho independentemente das humilhações que pudessem vir a sofrer com os seus actos de homem tresloucado ou, melhor dizendo, de homem apaixonado, livre. Isto, apesar de lhe tentarem um casamento com a recatada filha de um casal amigo, Sandra (Vinessa Cohen). E é entre Sandra e a sua bela mas um pouco volúvel vizinha Michelle (Gwyneth Paltrow) que se desenrola a duplicidade amorosa a que alude o título. E a angústia de Leonard entre seguir o seu instinto, acreditar no amor, ou ficar-se pela segurança de uma mulher que sabe amá-lo e não lhe oferece dúvidas.

Michelle, no fundo, nunca ‘maltrata’ Leonard. Ela é a amante de um homem poderoso, casado (Ronald, protagonizado por Elias Koteas), que a divide com a família e os afazeres profissionais. A sua culpa é unicamente a de ter concedido a esperança ao infeliz amante Leonard quando ela mesma se encontrava num beco sem saída com o homem que amava e acreditava deixasse tudo por ela. E como tantas vezes acontece na vida real, Leonard acaba por sofrer a amargura e o desencanto por ter acreditado num amor que o devastava a si mas não era inteiramente correspondido do outro lado.

«Two Lovers» é cinema sério. É um drama disfarçado de comédia romântica, é o renascer de um género tão maltratado pelos grandes estúdios de cinema atolados na megalomania de meios e na presunção de que aquilo que os espectadores querem é descomprimir com a docilidade de romances onde falta a verdadeira paixão e a complexidade labiríntica das questões do coração por vezes tão perigosamente perto de factores psicossociais que os condicionam.

James Gray é um talentoso realizador que já assinou filmes como «We Own The Night» (2007), «The Yards» (2000) e «Litle Odessa» (1994) e Joaquin Phoenix é na actualidade o actor que mais se aproxima daquilo que representa o mito de James Dean. E é também de há muito que ultrapassou a associação das avaliações ao seu talento tendo em conta o impacto da morte prematura do seu irmão River Phoenix. Neste filme Joaquin Phoenix volta a estar fantástico na pele de um homem apaixonado que segue um trilho dramático na relação com as mulheres por quem se apaixona. Mais que aconselhável, «Duplo Amor» é um filme imperdível. Até pela complexidade emocional da sua indissociável comparação com a vida.


Two Lovers, de James Gray, com Joaquin Phoenix, Gwyneth Paltrow, Vinessa Shaw, Isabela Rossellini e Elias Koteas

retirado do blogue - Cartório Mental by Joaquim Lucas

Um comentário:

Anônimo disse...

Excelente filme. Também gostei da crítica. :)

Cumprimentos.