quarta-feira, 21 de outubro de 2009

PSICOLOGIA SOCIAL: Altruismo



Resumo:

O presente estudo foi elaborado com o intuito de verificar se o estado de humor do indivíduo influencia a sua predisposição para ser altruísta. Para esta investigação utilizamos uma amostra de 63 estudantes dos cursos de psicologia e sociologia da UALG com idades compreendidas entre os 17 e os 45 anos. Foram aplicados questionários para avaliar o nível de altruísmo.
Os principais resultados obtidos revelaram que os participantes não obtiveram diferenças significativas nos níveis de altruísmo ao experimentar diferentes estados de humor.
Neste estudo pretendemos averiguar se através da infusão de emoções é possível influenciar a intenção/comportamento altruísta do indivíduo, utilizando um texto que induziria emoções positivas e negativas.

Enquadramento Teórico:

Este estudo foi realizado com base nos pressupostos teóricos que defendem o facto de o altruísmo poder ser influenciado pelo estado de humor do indivíduo. Para compreender este fenómeno é preciso perceber o que é o altruísmo.
O altruísmo é um comportamento que visa beneficiar o outro mas que não beneficia directamente o indivíduo por ele responsável. Pode por vezes envolver custos e é realizado sem expectativas de recompensa. Esta predisposição para ajudar o outro manifesta-se de diferentes formas consoante o indivíduo e as circunstâncias. Assim, um dos factores que pode influenciar o altruísmo dos individuos é o seu estado de humor.
As pesquisas mostraram que os individuos que se sentem bem estão muito mais disponíveis para ajudar alguém que precise do que os individuos que se sentem mal. Quando os individuos se sentem bem, estão menos preocupados com eles próprios e estão mais sensíveis às necessidades e problemas dos outros. (Isen & Stakler, 1982) Em contraste, os individuos que se sentem mal, tristes ou deprimidos focalizam-se em si próprios. Concentram-se nos seus próprios problemas; assim, estão menos preocupados com o bem-estar dos outros e são menos altruístas.
Hornstein (1982) afirma que as boas notícias facilitam o acesso a cognições positivas em relação a várias actividades, incluindo ajudar, o que vai levar a um aumento do comportamento altruísta. Por oposição, Hornstein (1982) afirmou também que ouvir más noticias tornarão mais acessíveis as cognições negativas o que vai diminuir a predisposição para ser altruísta. Hornstein, LaKind, Frankel e Manne, (1976) providenciaram várias evidências consistentes com essas afirmações.
Conclui-se portanto que as emoções podem influenciar a predisposição do individuo para ser altruista.


Estudo Empírico

Tendo em conta estes pressupostos teóricos criamos a seguinte hipótese:
Os participantes das condições de Humor positivo apresentam um valor superior nas respostas de intenção altruísta em relação aos participantes de condição de humor negativo.


Método

Design e amostra

O estudo baseou-se numa variável independente manipulada em função de três condições: humor positivo, humor negativo e neutro. Num total 63 participantes tendo a condição positiva 24, a negativa 23 e a neutra 16.

Participantes

Participaram no estudo 63 estudantes do sexo feminino do 1º e 2º ano dos cursos de Sociologia e Psicologia. A cada sujeito era atribuída de forma aleatória, uma de três condições: humor positivo (24 participantes), humor negativo (23 sujeitos) e apenas no 2º ano de Psicologia se aplicou a condição de controlo (16 sujeitos).
Foi decidido que o questionário seria apenas passado a sujeitos do sexo feminino destes cursos/anos para que alguma destas variáveis não tivesse influência nos resultados (variáveis de controlo).
A média de idade dos participantes foi de 22,13 anos sendo o mínimo 17, o máximo 45 e o desvio-padrão 5,942.

Procedimento

Mediante a autorização dos professores, os questionários foram passados nas salas de aula.
Fez-se uma breve introdução em que se frisou ligeiramente o objectivo do estudo, pedindo-se aos participantes que lessem atentamente um texto e respondessem aos questionários. Assegurou-se a confidencialidade dos dados. Quando todos os participantes tivessem terminado, era feito o debriefing, em que se explicava aos participantes o verdadeiro objectivo do estudo. Agradecemos então a colaboração dos mesmos.

Instrumentos

Para a recolha de dados, foi utilizado um questionário que continha 43 afirmações sobre as quais os participantes deviam identificar, numa escala de Lickert, o grau de concordância em relação a essa afirmação.
Foram também utilizados dois tipos de texto (excepto na condição neutra em que não era apresentado nenhum texto): um positivo e outro negativo. Estes textos foram usados com o intuito de despertar no sujeito um certo tipo de humor, relacionado com o mesmo texto.

Apresentação e Análise dos Resultados:

Os resultados obtidos permitiram concluir que o tipo de texto apresentado induziu o humor pretendido, já que, F (1,44) = 53.580, p=.000. Resultados estes, que foram retirados da análise dos dados elaborada no SPSS.
A média das respostas à pergunta relacionada com o nível de satisfação após o texto foi de 2.95 na condição negativa (desvio-padrão = 1.526) e 7.35 na condição positiva (desvio-padrão = 2.420).
No entanto, não foram encontradas diferenças significativas entre as três condições (positiva, negativa e neutra) na forma como os sujeitos responderam as perguntas do questionário. [t (4,814) = -.241 , p = .820)].
Tentou-se por isso, ver quais as perguntas com maior consistência e estas últimas foram reunidas em dois grupos diferentes, pois tinham um alfa de Cronbach elevado. O primeiro grupo de perguntas composto por 5 itens tinha um alfa Cronbach de .832. O segundo grupo composto por 6 itens tinha um alfa de Cronbach de .734. Procedeu-se deste modo de forma a que as diferenças se revelariam significativas.
Apesar disso, a única diferença significativa que se constatou foi a nível do segundo grupo de perguntas entre a condição neutra e a negativa, (p = .014).
Ao contrário do que era previsto, na condição negativa os participantes obtiveram valores superiores na média das respostas.

Discussão

As emoções não interferem no altruísmo dos indivíduos. Apesar de na condição negativa se observarem valores superiores nas médias de resposta, esses valores só foram significativos em relação à condição neutra e tendo apenas como base, o segundo grupo de perguntas.
Assim sendo,a nossa hipótese não se verificou.
Os resultados encontrados podem dever-se a vários factores, entre os quais o facto do questionário não medir efectivamente o altruísmo.
Além disso, uma vez que o altruísmo pode ser um traço estável da personalidade, é difícil conseguir alterar esse traço através da infusão de emoções.
Pode também apontar-se como outro factor a desejabilidade social, visto que a pessoa pode responder consoante aquilo que ela acha que a sociedade aprova, o que vai impedi-la de responder sinceramente.
Para um futuro estudo nesta mesma área, dever-se-ia ter um questionário que medisse realmente o altruísmo, assim como um pós-questionário que seria aplicado após a leitura do texto e permitiria comparar o nível de altruísmo antes e depois dessa mesma leitura.
Os textos deveriam ser testados para ver se induzem mesmo as emoções pretendidas.
Também seria desejável que as condições de aplicação fossem as mesmas para todos os participantes, visto que em certos casos (questionários passados no final de uma aula ou durante o intervalo), os participantes poderiam estar com pressa, cansados e portanto com menos disponibilidade para responder ao questionário.

Referências Bibliográficas

• Campenhoudt, L. V. & Quivy, R. (1998). Manual de Investigação em Ciências Sociais. Lisboa. Gradiva.
• Leyens, J. P., & Yzerbyt, V. (1997). Psychologie sociale. Bruxelles: Mardaga [ trad. Port. : Psicologia Social. Lisboa: Edições 70, 1997]
• Pereira, A (2003) Guia prático de utilização do SPSS. Análise de dados para Ciências Sociais e Psicologia. Lisboa: Edições Sílabo
• Ribeiro, J. (1999). Investigação e avaliação em psicologia e saúde. Lisboa: Climepsi
• http://chuma.usf.edu/~penner/altruismsurvey.htm

nº 23192 - Zara Vilhena Mesquita

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