Raquel Gonçalves reflecte no presente ensaio acerca das vertentes da Ciência, da Filosofia e da Epistemologia a fim de conhecer a metodologia das verdades, da concordância entre teorias e realidades, interrogando em última instância a linearidade do conhecimento científico. A Ciência não se isola das outras formas do saber e, neste ponto de vista, surge a investigação histórica que tem como consequência uma narrativa estruturada que se impõe perante o passado através de uma sequência lógica e de uma fidelidade vincada. Perante isto, surge a “Ciência como problema histórico e como questão filosófica” [Gonçalves, 1991: 12].
A questão fundamental deste excerto de Raquel Gonçalves realça o dualismo que persiste entre a “História e Filosofia das Ciências” e a “Epistemologia”. A “Epistemologia debruça-se reflexivamente sobre a obtenção dos conhecimentos pela Ciência, na tentativa de esclarecê-los em profundidade” [Gonçalves, 1991: 18]. A Filosofia da Ciência elabora as vias axiomáticas do conhecimento, consoante a análise dos fenómenos interiores e exteriores ao homem, criando a ciência como actividade fundamental da Filosofia. A Epistemologia e a Filosofia da Ciência correspondem a “conteúdos conceptuais diferentes no tempo real e no tempo de actuação face à Ciência” [Gonçalves, 1991: 18].
Neste âmbito, pretende-se criticar linearmente a importância da Filosofia para o desenvolvimento evolutivo da Ciência, aparecendo como consequência a aplicação de leis científicas fundamentais ao meio social. Torna-se relevante incitar que a Ciência evolui e transforma-se consoante o refutar de leis científicas e, por outro lado, a Filosofia implica pensar como fazer a Ciência evoluir através das questões empíricas: “Para quê?”, “Como?”, “Porquê?”.
A Ciência é um processo contínuo e permanente de explicação e interpretação das experiências físicas. Deste modo, a ciência é um conhecimento certo das coisas, dos seus princípios e causas. Por outro lado, pode-se dizer que a ciência é um conjunto de designações, descrições e generalizações que constituem um ramo particular de saber humano. A mesma resume-se a uma sabedoria, erudição e conhecimento. Pressupõe a racionalidade sobre as suas condições de existência validando a investigação metódica das leis dos fenómenos, detendo “um conjunto de conhecimentos coordenados, relativos a um objecto determinado” [Gonçalves, 1991: 12].
Por conseguinte, em torno da Ciência surge o saber e o conhecimento. “O saber é muito mais do que o conhecimento” [Gonçalves, 1991: 12]; o saber engloba todo um conjunto de pressupostos, tais como: a sabedoria ética, a sensibilidade estética, a justiça e o bem-estar. A par disto, afirma-se que o saber é a virtude própria do entendimento, tal como defendia Alain.
O conhecimento, advém do saber, já que o mesmo estabelece critérios de falsificação e veracidade. “O termo Ciência era entendido como o denominador do conhecimento certo” [Gonçalves, 1991: 13]. A nova concepção de Ciência surge como um aglomerado homogéneo de elementos de verdade.
Raquel Gonçalves salienta o facto de a Ciência ganhar ambiguidade, na medida em que existem Ciências Exactas e Experimentais e, por outro lado, as Ciências Sociais e Humanas. Neste domínio, a Filosofia chegou a requerer o estatuto de Ciência, tendo como credibilidade a ignorância dos peritos. A Ciência assume a função de procurar os fragmentos coexistentes e não necessariamente unificadores. “Ciência é a fronteira da dilatação do espaço cultural” como defende António Brotas. Jean Petitot adepto de um racionalismo científico radical, conduz-nos à seguinte reflexão: “a ciência é a expressão cultural que se propõe conter um movimento de determinação objectiva” [Gonçalves, 1991: 14].
Em oposição, a Filosofia subsiste como “uma indagação racional sobre o mundo e o homem com propósito de encontrar a sua explicação última” [Gonçalves, 1991: 15]; tendo como objectivo encontrar os princípios básicos da existência e da conduta humana. Filosofia remete-nos para o conhecimento e sabedoria como uma forma de ciência geral dos seres.
A Filosofia surge como esforço permanente da Humanidade, achamo-la em todas as partes: na vida e na reflexão, na ciência e na religião, nas religiões e nas técnicas, na civilização e na cultura. Tal esforço filosófico da Humanidade realizou-se através das experiências múltiplas do ser, do pensamento e do valor. “A Filosofia é tendência forte para o seu objecto, o saber. O filósofo não é apenas um homem afeiçoado ao saber, mas aquele que tem por ele uma perfeita avidez” [Gonçalves, 1991: 17].
A Filosofia e a Ciência pertencem ao “saber”, estudando o mesmo objecto, procurando, todavia, diferentes verdades. Nesta sua reflexão, Raquel Gonçalves reforça as ideias-chave patentes no campo da Ciência e da Filosofia – a “Filosofia é o princípio e o fim, a indagação primeira e a explicação última, a procura da verdade absoluta do Homem e do Universo”, – em contrapartida – a “Ciência é um meio, a investigação e o encontro de verdades parcelares” [Gonçalves, 1991: 16].
A autora desenvolve a noção de Filosofia das Ciências , dando-nos a conhecer o seu papel primordial na sociedade actual. A Filosofia das Ciências incute-nos a tarefa de estabelecer os “princípios normativos essenciais da Ciência, como uma unidade, e a integração reflexiva e superior dos vários conhecimentos científicos especializados” [Gonçalves, 1991: 16].
“A Filosofia da Ciência é, pois, um movimento elevado no sentido do conhecimento científico; o filósofo da Ciência, um pensador activo dos seus desígnios” [Gonçalves, 1991: 17]. O termo Epistemologia surgiu como substituto de “Filosofia da ciência”, em 1908, com Émile Meyerson.
nº 23192 - Zara Vilhena Mesquita
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