“Uma imensa curiosidade pela Natureza, pelo Homem e pelo Cosmos caracterizam a mentalidade moderna” e “As concepções aristotélicas forma, na Idade Média, sobretudo instrumentos ideológicos”
Koyré, Alexandre (1983), Estudios de Historia del Pensamento Científico, Siglo XXI, Madrid.
Caraça, Bento de Jesus, Conferências e Outros Escritos, Ed. J. M. C., Lisboa, 1978.
Alexandre Koyré pressupõe no presente ensaio que “Uma imensa curiosidade pela Natureza, pelo Homem e pelo Cosmos caracterizam a mentalidade moderna” [Koyré, 1983]. Neste âmbito, Koyré insinua que a Época Renascentista abrange uma grande transformação intelectual, incidindo sobre uma mentalidade aberta, onde se acreditava que “tudo é possível” [Koyré, 1983]. Contudo, não se tinha a percepção de que tudo seria possível de acordo com o sobrenatural (aquilo que está para além do mundo perceptível) ou se pelo contrário, tudo seria possível por acção das forças naturais. Deste modo, surgiu o chamado Naturalismo, segundo o qual tudo era explicado em função da acção da natureza.
O Homem Renascentista detinha um grande espírito de aventura que o conduziam a grandes viagens de descobrimentos, de tal forma que, a circum-navegação do Mundo se torna num marco histórico importante, já que o mesmo levou ao enriquecimento espontâneo do conhecimento dos factos. O século XVI reuniu “uma recompilação de factos e uma acumulação de saber” [Koyré, 1983], predispondo o Homem para o estudo intrínseco do corpo humano, de forma a desenvolver o estudo da anatomia.
Alexandre Koyré salienta o facto da Época Renascentista incorporar “uma agudeza de visão positivamente prodigiosa” [Koyré, 1983] e, nesta linha de pensamento, o homem consciencializa-se de que seria primordial a presença de uma teoria classificativa para tornar possível a classificação razoável dos factos que iriam surgindo ao longo dos descobrimentos. O Homem Renascentista detém uma percepção da variabilidade. Nesta época, registou-se uma evolução científica à margem do espírito renascentista, perante a qual, Alexandre Koyré assentava a teoria conceptual de que seria necessário colocar de lado a “síntese aristotélica”.
Em contrapartida, no excerto de Bento de Jesus Caraça atribui-se às concepções Aristotélicas instrumentos ideológicos. Aristóteles um dos grandes pensadores do século IV a. C. interrogou-se sobre a existência de movimentos simples perfeitos e após a averiguação dos mesmos deduziu que apenas o movimento circular é perfeito.
Para Aristóteles nem a recta finita, nem a infinita podem ser perfeitas, só mesmo a circunferência o poder ser, dado que esta “completa-se a si mesma” [Caraça, 1978]. Bento de Jesus Caraça infere que no espaço dominam os movimentos perfeitos mas, em oposição, na Terra reina a imperfeição. De acordo com a concepção aristotélica, o universo é formado por esferas concêntricas e a Terra é centro do mesmo (geocentrismo). As mesmas sofrem a atracção de uma substância que lhes é transcendente, mais precisamente a substância divina que possui uma forma pura e imaterial.
Em conformidade com a concepção de Aristóteles podemos inferir a Terra como centro de um corpo divino. Este último está em constante rotação enquanto a Terra está em “repouso”. Aristóteles admitiu também a existência de cinco elementos que se redimiam aos corpos celestes, e por conseguinte, os fenómenos processados na Terra são influenciados por estes. Do Universo Aristotélico fazem parte as substâncias físicas terrestres e as substâncias físicas celestes. Estas são formadas pela matéria primeira e por quatro elementos (ar, fogo, terra, água). Em oposição, as substâncias físicas celestes são formadas por um quinto elemento, a intitulada quinta-essência. Aristóteles considera o mundo etéreo vivo e inteligente. Perante esta panorâmica, à semelhança de Aristóteles, também Bento de Jesus Caraça defende que “o movimento da terra é impossível” [Caraça, 1978].
nº 23192 - Zara Vilhena Mesquita
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