quarta-feira, 19 de agosto de 2009

CONSULTA PSICOLÓGICA - Recensão Critica


Feltham, C. & Horton, I. (Eds.) (2004). Handbook of counselling and psychotherapy. London: Sage - pp.448, 452

Paul Gilbert considera que um diagnóstico e tratamento adequado são essenciais para quem sofre de depressão. Esta última envolve diferentes sintomatologias, processos biológicos e psicológicos. Por razões psicossociais as mulheres são um grupo mais susceptível à depressão e em geral uma em cada cinco pessoas já apresentaram sintomas depressivos ao longo da vida. Quando existe um episódio depressivo há uma probabilidade do mesmo se repetir, e essa incidência ainda é maior em famílias desajustadas afectivamente. As depressões são muito heterogéneas resultando de uma multiplicidade de factores, incluindo vulnerabilidade biológica, experiências passadas na infância, problemas actuais num relacionamento e dificuldades de vida.
Beck sugere que a experiência interna de uma pessoa depressiva envolve uma tríade cognitiva negativa com sentimentos de vazio, tristeza, culpabilidade, incapacidade, apatia, pessimismo e negativismo sobre o próprio, o mundo e o futuro. A agressividade e a impossibilidade de escapar a uma situação difícil estão também associadas à depressão. Pacientes depressivos apresentam problemas interpessoais, sendo submissos aos conflitos.
No que se refere ao diagnóstico desta patologia, o psicoterapeuta deve proceder à formulação de várias questões que permitam saber como o paciente se apresenta a nível biológico, emocional, motivacional, cognitivo, ideacional e comportamental.
Paul Gilbert defende que subsistem emoções difíceis de avaliar tais como a agressividade, a ansiedade e a vergonha, e nesse caso o paciente necessita de ser consultado por um especialista em psiquiatria.
Alguns deprimidos recorrem aos anti-depressivos indicados para os distúrbios do sono, sintomas psicossomáticos, problemas de concentração e sentimentos de desânimo. O autor sugere que devemos indicar um psicoterapeuta aos indivíduos que manifestam esta sintomatologia e principalmente àqueles que apresentam ideias de suicídio. A depressão denota-se quando o paciente constrói ideias negativas sobre o que o rodeia, pensando e agindo de forma irracional. O autor defende que o psicoterapeuta não deve mostrar-se indiferente aos problemas dos pacientes mas sim, proceder ao questionamento de outras pessoas que convivem com o paciente.
A intervenção psiquiátrica pressupõe a utilização de medicamentos ao contrário do aconselhamento e da terapia psicológica. Os psicoterapeutas intervêm na depressão em termos da organização psicológica interna, dando especial enfoque aos relacionamentos problemáticos com os demais assim como às experiências passadas na infância. As primeiras sessões terapêuticas focalizam-se no conhecimento do tipo de relações interpessoais que o paciente estabeleceu ao longo da vida, dando especial atenção aos afectos, ao controlo, à negligência, à agressão e à vergonha que o paciente demonstra. Obviamente que as situações de abuso também se tornam relevantes para a avaliação psicológica do paciente.
O passo seguinte na intervenção terapêutica focaliza-se na cognição que o paciente tem de si próprio e dos outros. As pessoas que se vêem como inferiores, problemáticas e inadequadas, muitas vezes precisam de adquirir crenças básicas e elevar a auto-estima. Aqueles que deixaram de confiar nos outros ou foram abusados de alguma forma, encontram dificuldades para estabelecer uma relação aberta e de confiança com o psicoterapeuta. Isto pode ajudar a explorar algumas atitudes do paciente perante a vida. Crenças como “Nunca cometi erros”, “Preciso de ser amada todos os dias” desencadeiam determinados tipos de comportamento, e estes últimos insurgem como os responsáveis pela manutenção da depressão. Por exemplo, pessoas que acreditam que não conseguem viver sozinhas, estabelecem normalmente relações abusivas e de insatisfação. O autor considera que na depressão é extremamente importante adquirir novas formas de lidar com as adversidades, aprendendo a improvisar perante situações angustiantes. De acordo com Paul Gilbert, é importante partilhar a visão do psicoterapeuta com os pacientes, remetendo-os para as experiências passadas, de forma a perceber como os mesmos se vêem a si e aos outros, assim como o que pensam acerca do mundo e o modo como isso afecta o seu comportamento, particularmente nas relações interpessoais geradoras de conflito. Para se verificar uma mudança de comportamentos no paciente, é necessário estabelecer uma forte aliança terapêutica.
Existem vários tipos de intervenção na depressão. O autor prefere o modelo interventivo biopsicossocial, visto que existem distúrbios físicos que pela utilização medicamentosa influenciam psicologicamente o sujeito tal como o hipotirodismo. Muitas pessoas beneficiam dos anti-depressivos, ainda que se saiba que estes não ajudam a entender a origem da depressão nem tão pouco proporcionam a aquisição de estratégias de coping. Apenas as terapias psicológicas e as experiências vividas podem auxiliar o paciente. No que se refere ao nível social, o autor pressupõe que é importante explorar as dificuldades do paciente sejam elas profissionais, legais, etc.
Obviamente que existe uma multiplicidade de terapias psicológicas que podem ser usadas na depressão, e por isso mesmo, é importante focalizarmo-nos em aspectos particulares do paciente para que se possa avaliar qual a mais apropriada. Paul Gilbert afirma que tem por hábito centrar-se nos pontos de vista negativos do self e nos sentimentos de inferioridade inadequados destes indivíduos, para que à posteriori possa indicar-lhes modos eficazes de actuação face às adversidades. Existem inúmeras formas de intervir com estes pacientes, entre elas, a biblioterapia.
Geralmente, os psicoterapeutas ajudam os pacientes a angariar diferentes perspectivas acerca de si próprios evitando a aquisição de uma sensação de pessimismo e de inferioridade. Assim, é essencial obter pensamentos alternativos, testar a eficácia desses mesmos pensamentos e tentar mudar os comportamentos. Frequentemente, os pacientes deprimidos perderam a afectividade e o amor por si próprios, e para dar a devida assistência aos mesmos é necessário desenvolver sentimentos de compaixão e de perdão. Muitas vezes, torna-se pertinente conhecer todas as experiências traumáticas do paciente e se as mesmas se reportam a abusos com os quais o psicoterapeuta não sabe lidar, o mesmo deve encaminhá-lo para outro profissional de saúde.
Em suma, Paul Gilbert evidencia a depressão como um distúrbio complexo. E na minha opinião em concordância com o autor, é perceptível como existem diferentes causas, sintomas e consequências que evidenciam a utilização de várias terapias. A terapia psicológica nem sempre é a mais adequada para dois pacientes que padecem da mesma patologia, por vezes é fundamental recorrer à terapia psiquiátrica. E por isso mesmo, é evidente a clara resolução dos problemas de um deprimido por uma dada via terapêutica e outro por outra via.

Nº 23192 - Zara Vilhena Mesquita

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