"O Palácio Nacional da Pena, também conhecido simplesmente por Palácio da Pena ou por Castelo da Pena, localizado na histórica vila de Sintra, representa uma das melhores expressões do Romantismo arquitectónico do século XIX no mundo. Em 7 de Julho de 2007 foi eleito como uma das sete maravilhas de Portugal, sendo aliás o primeiro palácio romântico da Europa, construído cerca de 30 anos antes do carismático Schloss Neuschwanstein, na Baviera."
in wikipédia
Recordo com saudade da primeira vez que visitei este carismático palácio. Ali respirei o romantismo na sua verdadeira concepção da palavra, onde a pureza subjaz em cada recanto. Teria os meus 14 anos quando vislumbrei uma explêndida Janela Manuelina equiparada à do Convento de Tomar.
Neste palácio apreciei o simbolismo das cores e o encanto das salas. A arte manifesta-se no palácio por todos os cantos: na Sala dos Veados, actualmente utilizada para exposições; na Sala de Saxe, onde tudo ou quase é feito em porcelana de Saxe; O Salão Nobre, onde estuques, lustres, móveis e pedaços de vitrais do século XIV ao século XIX, e onde surgem vários elementos maçónicos e rosacrucianos; os aposentos, onde se identifica o grande baixo-relevo de madeira de carvalho quinhentista, ilustrando a Tomada de Arzila; a Sala Indiana, onde descansam admiráveis obras de arte, como o lustre em cristal da Boémia e o Cólera Morbus, um baixo-relevo de Vítor Bastos; a Sala Árabe, que expõe algumas das pinturas de Paolo Pizzi, e as pinturas em pratos do rei-artista, numa outra sala.
No palácio da Pena subjaz um encantamento emblemático, onde histórias de amor de outrora se desenharam por entre as brumas daquele arvoredo incandescente. Lembro-me de cada recanto, cada tecto, as mobilias tipicas da época e a mitologia presente em cada escultura.
Depois da visita ao Palácio da Pena construi um trabalho magnifico pela madrugada fora....e mais uma vez a escrita sempre presente. Foi um trabalho que me deu muito gozo desenhá-lo por entre as letras que sempre coexistiram em mim. E graças à minha grande professora de Português do Ensino Básico ganhei um amor muito especial à escrita e à arte.
domingo, 14 de dezembro de 2008
sábado, 13 de dezembro de 2008
Poema de Zara.....e daqui nasce a minha "graça"
. Diz "huma tradiçaõ" que o nome de Abrantes se encontra
ligado à história da moura Záhára. Por boas ou más venturas.
. Ao autor não interessam as crenças, nem as factualidades.
. Os mistérios, sim. Ou a poesia, se quiserem.
. CITAÇÕES do bispo D. Fr. João da Piedade:
- "Hibrahim tinha huma filha donsella mui formosa, e
louçã, e gentil chamada Záhára..."
"... ou porque a belleza de Záhára o coraçaõ lhe ferira,
ou porque ella tinha feiço~es do rosto mui parecidas
com hum retrato da Virgem Nossa Senhora dos
Afflitos, que sua mãi lhe havia dado á hora da morte,
e que elle com muita devoçaõ trasia sempre consigo,
e havendo já per veses sonhado, que ao escalar os muros
de hum Castello, salvaria huma Donsella com cuja ca-
saria, julgou agora ver em Záhára a Virgem dos seus
sonhos".
"... e buscou per todos os meios honrosos ganhar o
coraçaõ de Záhára que ello naõ podia esquecer".
ZARA infere do tempo que aqueceu misturado no delírio real.
A sugestão dum nome no corpo anuncia uma lente que deixa o olhar
tranquilo e luminoso.
Título e memória.
" Le poème n'est pas un mécanisme de mots - il est un organisme ".
PIERRE GARNIER
Z
Nuvens azuis,
rio branco.
Alfabeto de flores
com sol verde pendurado nas janelas.
Raíz de pedra,
torre.
Imagem de quem nasce
no horizonte.
Alguns pássaros,
passos de gente.
Na estrada, pelo tempo,
vento lento, em castelo.
Mais côr leve,
chão de avenca e ázimo coração.
Uma tesoura feita de lâminas e água.
Monumentos de azulejo,
fáceis troncos arvóreos
qual misto de mármore
para o mar correndo.
Quartzo,
cal,
sombra,
sonhos.
Quem diz a ternura dos corpos
diz o inverno, essa mistura
de malvasia e amor,
de soturno jardineiro branco.
É pelas estações que se conhece a idade.
Talvez o rumo da história nascesse
antes de morrer
o que nas ruas tem a fala da memória.
Era um alto átomo, a vida
em canção,
e ouviu-se contar uma lenda,
multiplicada, quando eu passava no jardim.
Falo duma cidade,
antiga caixa de mortos e lêndias.
Hoje interminável
alegria,
glicínias.
Vou dizer que ao longo dos anos
a trovoada nasce
sobre um monte de casas
quando o verão aquece as serras.
Vê-las daqui cheias de chumbo
com riscos de lume na tela
e ah os estrondos
de cair o inferno.
Uma cidade treme por esquecimento
põem-se as luzes por cima das florescências
os homens são do tamanho das portas,
interminável o rio e o seu sopro.
Da areia falo
que no cofre das camionetas
um risco se deixa molhado
de peixes, por nascer, ao longo das estradas.
Antes escrever a palavra largo,
as artérias multiformes, montras,
e o povo porque não
com enxada e enxó.
Explica-se depois o sol.
Havia sempre uma floreira
ao lado duma mesa,
o convento de arcos.
Nesta dança cercada,
- a magia.
Imagem à beira de acontecer
o mistério do céu.
Mas esta cidade
por amor se perdeu, em Zara,
uma mulher.
As ruas nunca abaixo
acima se afirmam;
com gente à vida, nos parapeitos.
Nelas prendo meu acto
e minha âncora,
meu barco Tejo abaixo até ao tempo.
Varanda de ver o infinito,
o passo lento do para lá depois,
uma pausa, uma igreja,
a peleja dos dias intermináveis.
É da colina que eu vejo a cidade
ao subir a serpente.
E como de flores se veste um corpo de terra
resistindo no centro temporável.
Oh que de árvores
oh que já de cimento
ó que sinto
ó o ardor.
Vê-se daqui o sul,
o sol todos os dias ainda quando chove.
Há mártires pelas ruas,
o sossego numa navalha pressentida.
Divido o som duma cidade: entre:
este e este.
E qual deles ganha forma?
Falo-te em sílabas não imagináveis,
soletro o dorso do teu nome e recuso escrevê-lo.
Uma terra começa ao longo duma palavra
e significa.
Volto atrás porque não há árvores,
há corpos;
atrás porque não há nomes,
há sangue.
Vocês sabem os poemas de cor
e a côr,
vocês sabem a coragem,
mas dos nomes das ruas é que eu gosto.
Ó cidade porque te trato
e retrato por tu
em português?
Deixemos que um dia
te cravassem algumas espadas
e gravassem a imagem da tua honra,
deixemos.
Que vem da terra que não seja
quente?
Que vem da chuva senão a terra
molhada
e o seu aroma?
Que mistério renasce no relâmpago?
Que luzes queimam?
Que almas circulam?
- Como os vidros nos colocam contra nós!
Que texto é infindável?
Que vida se cumpre?
Que de teus olhos, cidade,
se viaja para lá entre longe?
Mantenho amar-te no que não sei.
Por vezes saio dentro duma concha
e a pérola
rescende
como se comesse
a primeira palavra do mundo:
os orégãos,
a ostra,
um certo visco branco,
vinho inesquecível
da videira inebriante.
Mais uma vez quanto quente
te exaltas e deitas e estremeces.
A frescura incendeia esta cidade,
o brilho do lume vem do impenetrável
sofrimento,
acresce a água por de debaixo
dum imenso véu de espuma.
Asperge-lhe uma flor,
um grande enorme magma.
Diria que na rua da barca
deste inferno
nasceu uma planta
que guardo dentro da pele.
Que outrora por aqui aconteceu?
Que milhafres?
Que riscos se escrevem hoje
com passos à medida
depois?
Retrato uma inteligência,
o saber do sabor profundo dos perfumes,
a maneira duma rua
como dantes.
Por aqui as pessoas sentam-se à mesa
pedem refrescos,
multiformes santuários,
dançam
no mais dentro labirinto.
Quem escolhe a terra que escolheu?
- a terra, e só!
Nada existe sem um corpo de morte.
Uma toalha branca é este centímetro de cal.
Por isso nos deixamos adormecer
indefinidamente.
Dizia se pudesse um nome.
Escrevê-lo-ía, contornando.
Para voltar.
Mas é a palavra que 'se'
esconde.
Deixei o nome atrás,
a palavra que pego agora,
bem posta, Zara amiga,
no rossio onde cantamos
ao longo dum rio de moínhos.
É quando arreciadas as mulheres
se colocam no alto das antenas
para anunciar
a emissão duma tragédia
(edo, edis, edere, edi, esum).
lépidas, tão sápidas, eloquentes.
O mosto é uma incineração doce,
disse S. Miguel.
Alva, vega uma ave
no espaço do rio interminável.
A batalha de Tramagal
square.
Esqueço nomes por adormecimento,
desfaço-os, refaço-os e desfaleço,
que um texto é uma tarântula minuciosa.
Porém, afago as terras indizíveis
e amo-as certiciturnamente.
Eu disse
o inominado.
Das luzes sei apenas o céu,
um deus de terra longínqua
que cabe na mão da palma dum canteiro,
florescendo.
Quase apetecia escrever:
"A ti Tágide minha...",
mas recuso.
Que "não" nasce numa palavra branca,
correndo?
Todos os anos, pelo menos,
uma criança morre no Tejo
e eu que estive lá
vejo
flores a crescer na areia
e a sua multiplicação
pelos jardins fronteiros
daqueles que um dia
vão ver os filhos morrer no Tejo.
Coisas.
Zara, que hora escolheste
para me escolher?
É de ti que há anos falo
nesta viagem
pelas outras cidades.
Todo o amigo que morre
em ti o enterro
para que floresça.
Onde vais rio que encanta?
Azar nosso, Zara,
se de Ulisses os ouvidos
não tivéssemos.
Acho que as coisas são mais simples e belas
que os poemas,
as pessoas não.
"Acabei de achar uma pedra
para pôr no museu
da imaginação".
Uma cidade nunca deve ser convexa,
côncava talvez,
cavada no mais íntimo da raíz
que um poeta que passa
é de graça, como vês.
Então como vamos de exílio?
E emigração?
E de canção?
Ó Botto da marinhagem!
Ó Camões da abordagem!
Ó O'Neill em que ano
tu estiveste no Pelicano?
Foi?
Ele há coisas, oméssa.
Como se apagaram as luzes. E é noite.
Vestido de pedra, um actor entra em cena,
Ó Taborda arranca-te ao jardim
viaja
Cá estou nas palmas, na (pla)teia de mim,
neste papel, de te fixar até ao infinito
Ouves?
O orfeão?
É assim.
Falava eu, portanto, dos filhos
que morrem no Tejo
e não precisava de ir tão longe
que eles morrem com o motor
da morte natural.
Uma cidade se não tiver
acontecimentos pequenos
não é grande.
Verdade?
Olho o rumor das encostas,
as estrelas que caminham,
o som das fachadas tranquilas.
Olho os desenhos, a fábrica das estrelas,
a miragem concreta dos rostos;
pétalas roxas
no tapete azul da colina de Stº António.
Olho a cruz dos dias
e um "álvares", em ferro, sobre os astros,
perdidamente.
Olho magicamente
o mapa
do teu corpo.
Olho os jardins,
os lírios;
líquidos os teus líquenes,
as amoras.
Olho as casas, as pessoas,
o tempo que as envelhece
e o desconhecimento disso.
Olho já depois de tudo acontecer,
a vida,
a peregrinação.
Olho-te, enlouquecendo.
Abrantes, cidade sem Ribatejo
nem Alentejo,
sem Beira nem eira
Tens um coração
que quer se queira
ou não
Bate
Bate
Baaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaate.
ligado à história da moura Záhára. Por boas ou más venturas.
. Ao autor não interessam as crenças, nem as factualidades.
. Os mistérios, sim. Ou a poesia, se quiserem.
. CITAÇÕES do bispo D. Fr. João da Piedade:
- "Hibrahim tinha huma filha donsella mui formosa, e
louçã, e gentil chamada Záhára..."
"... ou porque a belleza de Záhára o coraçaõ lhe ferira,
ou porque ella tinha feiço~es do rosto mui parecidas
com hum retrato da Virgem Nossa Senhora dos
Afflitos, que sua mãi lhe havia dado á hora da morte,
e que elle com muita devoçaõ trasia sempre consigo,
e havendo já per veses sonhado, que ao escalar os muros
de hum Castello, salvaria huma Donsella com cuja ca-
saria, julgou agora ver em Záhára a Virgem dos seus
sonhos".
"... e buscou per todos os meios honrosos ganhar o
coraçaõ de Záhára que ello naõ podia esquecer".
ZARA infere do tempo que aqueceu misturado no delírio real.
A sugestão dum nome no corpo anuncia uma lente que deixa o olhar
tranquilo e luminoso.
Título e memória.
" Le poème n'est pas un mécanisme de mots - il est un organisme ".
PIERRE GARNIER
Z
Nuvens azuis,
rio branco.
Alfabeto de flores
com sol verde pendurado nas janelas.
Raíz de pedra,
torre.
Imagem de quem nasce
no horizonte.
Alguns pássaros,
passos de gente.
Na estrada, pelo tempo,
vento lento, em castelo.
Mais côr leve,
chão de avenca e ázimo coração.
Uma tesoura feita de lâminas e água.
Monumentos de azulejo,
fáceis troncos arvóreos
qual misto de mármore
para o mar correndo.
Quartzo,
cal,
sombra,
sonhos.
Quem diz a ternura dos corpos
diz o inverno, essa mistura
de malvasia e amor,
de soturno jardineiro branco.
É pelas estações que se conhece a idade.
Talvez o rumo da história nascesse
antes de morrer
o que nas ruas tem a fala da memória.
Era um alto átomo, a vida
em canção,
e ouviu-se contar uma lenda,
multiplicada, quando eu passava no jardim.
Falo duma cidade,
antiga caixa de mortos e lêndias.
Hoje interminável
alegria,
glicínias.
Vou dizer que ao longo dos anos
a trovoada nasce
sobre um monte de casas
quando o verão aquece as serras.
Vê-las daqui cheias de chumbo
com riscos de lume na tela
e ah os estrondos
de cair o inferno.
Uma cidade treme por esquecimento
põem-se as luzes por cima das florescências
os homens são do tamanho das portas,
interminável o rio e o seu sopro.
Da areia falo
que no cofre das camionetas
um risco se deixa molhado
de peixes, por nascer, ao longo das estradas.
Antes escrever a palavra largo,
as artérias multiformes, montras,
e o povo porque não
com enxada e enxó.
Explica-se depois o sol.
Havia sempre uma floreira
ao lado duma mesa,
o convento de arcos.
Nesta dança cercada,
- a magia.
Imagem à beira de acontecer
o mistério do céu.
Mas esta cidade
por amor se perdeu, em Zara,
uma mulher.
As ruas nunca abaixo
acima se afirmam;
com gente à vida, nos parapeitos.
Nelas prendo meu acto
e minha âncora,
meu barco Tejo abaixo até ao tempo.
Varanda de ver o infinito,
o passo lento do para lá depois,
uma pausa, uma igreja,
a peleja dos dias intermináveis.
É da colina que eu vejo a cidade
ao subir a serpente.
E como de flores se veste um corpo de terra
resistindo no centro temporável.
Oh que de árvores
oh que já de cimento
ó que sinto
ó o ardor.
Vê-se daqui o sul,
o sol todos os dias ainda quando chove.
Há mártires pelas ruas,
o sossego numa navalha pressentida.
Divido o som duma cidade: entre:
este e este.
E qual deles ganha forma?
Falo-te em sílabas não imagináveis,
soletro o dorso do teu nome e recuso escrevê-lo.
Uma terra começa ao longo duma palavra
e significa.
Volto atrás porque não há árvores,
há corpos;
atrás porque não há nomes,
há sangue.
Vocês sabem os poemas de cor
e a côr,
vocês sabem a coragem,
mas dos nomes das ruas é que eu gosto.
Ó cidade porque te trato
e retrato por tu
em português?
Deixemos que um dia
te cravassem algumas espadas
e gravassem a imagem da tua honra,
deixemos.
Que vem da terra que não seja
quente?
Que vem da chuva senão a terra
molhada
e o seu aroma?
Que mistério renasce no relâmpago?
Que luzes queimam?
Que almas circulam?
- Como os vidros nos colocam contra nós!
Que texto é infindável?
Que vida se cumpre?
Que de teus olhos, cidade,
se viaja para lá entre longe?
Mantenho amar-te no que não sei.
Por vezes saio dentro duma concha
e a pérola
rescende
como se comesse
a primeira palavra do mundo:
os orégãos,
a ostra,
um certo visco branco,
vinho inesquecível
da videira inebriante.
Mais uma vez quanto quente
te exaltas e deitas e estremeces.
A frescura incendeia esta cidade,
o brilho do lume vem do impenetrável
sofrimento,
acresce a água por de debaixo
dum imenso véu de espuma.
Asperge-lhe uma flor,
um grande enorme magma.
Diria que na rua da barca
deste inferno
nasceu uma planta
que guardo dentro da pele.
Que outrora por aqui aconteceu?
Que milhafres?
Que riscos se escrevem hoje
com passos à medida
depois?
Retrato uma inteligência,
o saber do sabor profundo dos perfumes,
a maneira duma rua
como dantes.
Por aqui as pessoas sentam-se à mesa
pedem refrescos,
multiformes santuários,
dançam
no mais dentro labirinto.
Quem escolhe a terra que escolheu?
- a terra, e só!
Nada existe sem um corpo de morte.
Uma toalha branca é este centímetro de cal.
Por isso nos deixamos adormecer
indefinidamente.
Dizia se pudesse um nome.
Escrevê-lo-ía, contornando.
Para voltar.
Mas é a palavra que 'se'
esconde.
Deixei o nome atrás,
a palavra que pego agora,
bem posta, Zara amiga,
no rossio onde cantamos
ao longo dum rio de moínhos.
É quando arreciadas as mulheres
se colocam no alto das antenas
para anunciar
a emissão duma tragédia
(edo, edis, edere, edi, esum).
lépidas, tão sápidas, eloquentes.
O mosto é uma incineração doce,
disse S. Miguel.
Alva, vega uma ave
no espaço do rio interminável.
A batalha de Tramagal
square.
Esqueço nomes por adormecimento,
desfaço-os, refaço-os e desfaleço,
que um texto é uma tarântula minuciosa.
Porém, afago as terras indizíveis
e amo-as certiciturnamente.
Eu disse
o inominado.
Das luzes sei apenas o céu,
um deus de terra longínqua
que cabe na mão da palma dum canteiro,
florescendo.
Quase apetecia escrever:
"A ti Tágide minha...",
mas recuso.
Que "não" nasce numa palavra branca,
correndo?
Todos os anos, pelo menos,
uma criança morre no Tejo
e eu que estive lá
vejo
flores a crescer na areia
e a sua multiplicação
pelos jardins fronteiros
daqueles que um dia
vão ver os filhos morrer no Tejo.
Coisas.
Zara, que hora escolheste
para me escolher?
É de ti que há anos falo
nesta viagem
pelas outras cidades.
Todo o amigo que morre
em ti o enterro
para que floresça.
Onde vais rio que encanta?
Azar nosso, Zara,
se de Ulisses os ouvidos
não tivéssemos.
Acho que as coisas são mais simples e belas
que os poemas,
as pessoas não.
"Acabei de achar uma pedra
para pôr no museu
da imaginação".
Uma cidade nunca deve ser convexa,
côncava talvez,
cavada no mais íntimo da raíz
que um poeta que passa
é de graça, como vês.
Então como vamos de exílio?
E emigração?
E de canção?
Ó Botto da marinhagem!
Ó Camões da abordagem!
Ó O'Neill em que ano
tu estiveste no Pelicano?
Foi?
Ele há coisas, oméssa.
Como se apagaram as luzes. E é noite.
Vestido de pedra, um actor entra em cena,
Ó Taborda arranca-te ao jardim
viaja
Cá estou nas palmas, na (pla)teia de mim,
neste papel, de te fixar até ao infinito
Ouves?
O orfeão?
É assim.
Falava eu, portanto, dos filhos
que morrem no Tejo
e não precisava de ir tão longe
que eles morrem com o motor
da morte natural.
Uma cidade se não tiver
acontecimentos pequenos
não é grande.
Verdade?
Olho o rumor das encostas,
as estrelas que caminham,
o som das fachadas tranquilas.
Olho os desenhos, a fábrica das estrelas,
a miragem concreta dos rostos;
pétalas roxas
no tapete azul da colina de Stº António.
Olho a cruz dos dias
e um "álvares", em ferro, sobre os astros,
perdidamente.
Olho magicamente
o mapa
do teu corpo.
Olho os jardins,
os lírios;
líquidos os teus líquenes,
as amoras.
Olho as casas, as pessoas,
o tempo que as envelhece
e o desconhecimento disso.
Olho já depois de tudo acontecer,
a vida,
a peregrinação.
Olho-te, enlouquecendo.
Abrantes, cidade sem Ribatejo
nem Alentejo,
sem Beira nem eira
Tens um coração
que quer se queira
ou não
Bate
Bate
Baaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaate.
"Poema de Zara" - Antero de Quental
ZARA (Antero de Quental)
Feliz de quem passou, por entre a mágoa
E as paixões da existência tumultuosa,
Inconsciente, como passa a rosa.
E leve como a sombra sobre a água.
Era-te a vida um sonho: indefinido
E ténue, mas suave e transparente,
Acordaste... sorriste... e vagamente
Continuaste o sonho interrompido.
Feliz de quem passou, por entre a mágoa
E as paixões da existência tumultuosa,
Inconsciente, como passa a rosa.
E leve como a sombra sobre a água.
Era-te a vida um sonho: indefinido
E ténue, mas suave e transparente,
Acordaste... sorriste... e vagamente
Continuaste o sonho interrompido.
sexta-feira, 12 de dezembro de 2008
domingo, 7 de dezembro de 2008
Não sei escrever
Hoje sinto que não sei escrever....talvez tivesse o dever de ler mais para poder passear nas luzes da ribalta da escrita....mas não consigo....Ler, afinal que importância poderá ter numa vida ? Toda....
Se não tiver o prazer de ler, as palavras saem em bruto e nada se transfigura, tudo morre e nada se desenha como num verdadeiro sonho. Talvez pudesse dizer que não sei ler, se não sei ler como sinal de equivalência sobressai o facto de não saber escrever.
Escrever ....esse bicho que nasceu em mim e agora não sei cuidar....perdi-me no espaço do tempo por não saber ler....perdi a escrita da poesia por me recusar ou por não ousar saber ler....Que inoperância esta ....que ignorância a minha....que brutalidade.....as palavras doces não se transfiguram....desenho um poema sem sumo, sem ar, sem alma, sem côr....que pena...sinto-me pequena por perder o dom dos meus poemas.....ohhh que infortúnio será o meu destino por nada saber para além de escrever estranhezas da alma que não sabem delinear um poema limpo e claro....talvez pudesse chorar porque perdi o dom, o dom de ser diferente, ser diferente nesse outro caminho que é a poesia.
Se não tiver o prazer de ler, as palavras saem em bruto e nada se transfigura, tudo morre e nada se desenha como num verdadeiro sonho. Talvez pudesse dizer que não sei ler, se não sei ler como sinal de equivalência sobressai o facto de não saber escrever.
Escrever ....esse bicho que nasceu em mim e agora não sei cuidar....perdi-me no espaço do tempo por não saber ler....perdi a escrita da poesia por me recusar ou por não ousar saber ler....Que inoperância esta ....que ignorância a minha....que brutalidade.....as palavras doces não se transfiguram....desenho um poema sem sumo, sem ar, sem alma, sem côr....que pena...sinto-me pequena por perder o dom dos meus poemas.....ohhh que infortúnio será o meu destino por nada saber para além de escrever estranhezas da alma que não sabem delinear um poema limpo e claro....talvez pudesse chorar porque perdi o dom, o dom de ser diferente, ser diferente nesse outro caminho que é a poesia.
Para ti....O Sonho
Sonhaste com o nosso encantamento então...
Percorres o riacho da minha alma
com a arte da felicidade
que só tu sabes pintar
Virámos numa rua e avistei
a flor que depositaste em mim
Cresci com as tuas luzes
enfeitadas no meio da praça do amor
Simplesmente sonho e acordo todos os dias com o sorriso do teu olhar....
by Zara Ramalho
Percorres o riacho da minha alma
com a arte da felicidade
que só tu sabes pintar
Virámos numa rua e avistei
a flor que depositaste em mim
Cresci com as tuas luzes
enfeitadas no meio da praça do amor
Simplesmente sonho e acordo todos os dias com o sorriso do teu olhar....
by Zara Ramalho
terça-feira, 2 de dezembro de 2008
segunda-feira, 1 de dezembro de 2008
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